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The Good Place e os pilares de um relacionamento improvável

por Samantha Alves - CRP 04/54059


A série “The Good Place” nos mostra relacionamentos nascendo e pessoas desenvolvendo suas potencialidades mais positivas na vida após a morte. Ao despertar após a sua morte no Lugar Bom, Eleanor Shellstrop se vê num dilema entre pertencer a este lugar perfeito ou merecer ser torturada no Lugar Ruim. Além das amizades que ela forma, um relacionamento amoroso acontece entre ela e Chidi Anagonye.


Relacionamentos amorosos são formados sob influência da nossa história de vida e do contexto em que essas pessoas se encontram e escolhem estar juntas. É claro que, um namoro que nasce numa vida além da morte não é um relacionamento típico e, portanto, não se torna foco de estudos. Mas, considerando que a série mostra personagens que permanecem com a mesma personalidade de sua vida terrena podemos analisá-los sob uma ótica terrena também.


O que levam duas pessoas a se relacionarem? Uma das respostas mais comuns a essa pergunta é: ambos têm coisas em comum. Mas esse é o caso? Vejamos. Eleanor gostava de festas, de bebidas e de liberdade nos relacionamentos amorosos. Chidi gostava de livros, de ensinar e era mais rígido para se relacionar. Gostos em comum? Não encontravam um no outro.


Vamos alegar então que foram dois opostos que se atraíram? Mas se relacionar com o outro não é uma busca por uma metade que falta. Não é usar o que o outro oferece para se tornar completo. Um casal em relação são dois inteiros. Sem metades de laranjas ou tampas de panelas. São é sobre completar. É sobre transbordar.


Então, como explicar a conexão emocional entre Chidi e Eleanor?

É possível entender o que os mantinham juntos diante de tantas adversidades vivenciadas por eles nas quatro temporadas da série quando identificamos pilares fundamentais de um relacionamento que promove saúde e qualidade de vida. Destaco aqui: empatia, companheirismo, diálogo e admiração.


Empatia. Quantas vidas após a morte diferentes Chidi se dispôs a ajudar Eleanor a ser uma pessoa melhor através de estudos sobre ética? Centenas! Ele sentia o quanto isso era importante para ela e lá estava ele, disposto a se dedicar e cooperar com o desenvolvimento dela. No episódio cinco da primeira temporada, Eleanor sente a frustração de Chidi pela sua vida após a morte não ser como ele gostaria. Ela então tenta fazer algo bom para ele, preparando um momento que atendesse às expectativas dele. O descontentamento de Chidi mediante todas as mentiras que Eleanor o envolveu foi motivador para que ela se revelasse e confessasse a todos que era uma intrusa do Lugar Bom.


Companheirismo. Ambos estavam sempre juntos nas missões que eles se propunham a fazer, bem como todas as fugas que tiveram. Formaram uma equipe juntos, onde cada um tinha o seu papel. Ela contribuía com ousadia e criatividade e ele com ética e conservadorismo.


Diálogo: o casal teve vários momentos no decorrer da série nos quais dialogaram sobre o seu relacionamento. Em um desses diálogos, talvez o mais filosófico de todos, Chidi ajuda Eleanor a restaurar sua identidade pessoal, a partir do que ele conhecia sobre ela e do que ela sentia por ele. Esse diálogo foi uma forma dela se conectar consigo mesma. A conversa franca para estabelecimento de acordos é necessária nos relacionamentos. Na última temporada, o casal tem a oportunidade de saber tudo sobre o passado um do outro e, após manifestarem admiração pela vida que o outro teve, Chidi negocia aprender algum instrumento para que ela não fique entediada com a vida eterna simples dele.

Chidi também manifesta admiração pelo progresso de Eleanor, que aos poucos vai se tornando uma pessoa mais atenta às necessidades dos outros, mais amiga e, por isso, melhor.


Considerando todas as circunstâncias em que eles estavam e toda a diferença contida na bagagem da história de vida que eles carregavam, Chidi e Eleanor poderiam ser um casal improvável. Mas, através de pilares importantes de uma relação que promove saúde, fizeram o relacionamento acontecer e se manter pela eternidade.


Samantha Alves é psicóloga, atua na clínica e na área organizacional. Possui vivência em atividades de grupos com adultos e adolescentes. Atua em empresas com desenvolvimento e recrutamento. Na clínica, atende adolescentes, adultos e casais. Também é graduada em Gestão Financeira e Técnico em Farmácia.



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