Por Ronnedy Pires de Paiva (CRP 08/26257)
Diferente do que estamos acostumados a assistir, o ator Steve Carrel, conhecido pela série americana “The Office” e por filmes de comédia, como, “O virgem de 40 anos” e “A volta do Todo Poderoso”, interpreta, na minissérie de suspense psicológico: O Paciente, o terapeuta Alan Strauss, um renomado profissional que precisa lidar, para além dos seus pacientes, com um drama familiar diante da morte de sua esposa e do afastamento do seu filho por questões religiosas.
Na minissérie, Alan assume um novo paciente, Sam Fortner (Domhnall Gleeson), um jovem compulsivo. Ao longo das sessões, Alan fala sobre seu descontentamento com o progresso da terapia, dizendo que era necessário que o paciente se abrisse, falasse coisas que não eram fáceis de serem ditas para que a ajuda pudesse acontecer. Sam, nessa busca por ajuda, sequestra o psicólogo e o acorrenta em um quarto de sua casa, afim de ter ali a ajuda necessária e diária, além, é claro, de evitar que fosse denunciado pelo seu psicólogo após as revelações que faria. Sam é um serial killer com impulsos homicidas. Agora, Alan se vê em uma corrida contra o tempo para evitar que Sam cometa novos crimes, tornando-o cúmplice, ou pior, tornando-se ele mesmo a próxima vitima.
A medida que as sessões continuam, mesmo aprisionado, Alan também procura lidar com suas próprias questões, conversando com o seu antigo terapeuta, Charlie (David Alan Grier), através de sonhos e pensamentos. Em determinado episódio, Alan sonha que estava em um campo de concentração nazista, Auschwitz, e lá, depara-se com um homem tendo um pesadelo. Ao acorda-lo, é advertido: “você não leu meu livro? Eu disse que não é para acordar a pessoa”. Essa é a fala do neuropsiquiatra vienense, Viktor Emil Frankl, sobrevivente de quatro campos de concentração e fundador da terceira escola de psicoterapia de Viena, a Logoterapia e Análise Existencial.
Para Frankl, não tinha pesadelo tão ruim que pudesse ser comparado com a realidade de um prisioneiro médio em um campo de concentração, assim, era melhor que estivesse no pesadelo, dormindo, do que acordado, em uma realidade bem pior.
Frankl relata em seu livr: O homem em busca de sentido: um psicólogo no campo de concentração, os horrores que os prisioneiros eram submetidos, mas, para além disso, fala sobre a possibilidade de se dizer “sim” a vida apesar de tudo. A ideia de Frankl é que o ser humano possui uma vontade de sentido, um ‘para quê’ viver, que o ajuda a suportar o ‘como’ viver. Ao descobrir esse sentido, o ser humano é capaz de superar até mesmo a situação mais absurda, transformando a sua tragédia em triunfo, a sua vida em responsabilidade e o seu erro, em aprendizagem. É nessa ideia que Alan sugere que Sam procure, em seus relacionamentos, um sentido para conter seus impulsos homicidas, superando aquilo que até agora não conseguiu.
As contribuições que Viktor Frankl traz para a nossa concepção de ser humano, com a sua teoria, para além de importante, torna-se necessária para que possamos aprender a viver, ainda que em condições desfavoráveis. Não somos livres “de”, diz Frankl, mas somos livres “para”. Assim, Sam pode aprender a conviver com a sua compulsão, com os seus impulsos, não realizando aquilo que é levado a fazer, muitas vezes, de forma até inconsequente. É necessário resgatar o ser humano livre e responsável de sua doença.
Ronnedy Pires de Paiva é psicólogo (CRP 08/26257), especialista em Psicologia Existencial, Humanista e Fenomenológica, pós-graduando em Logoterapia e Análise Existencial e pesquisador pela Labô PUC.
Trabalha como psicólogo clínico e compartilha reflexões sobre a existência, cotidiano, sentido da vida e outros assuntos no Instagram @ronnedypaiva.
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