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O Mandaloriano - Por que o Sabre Negro tem peso?

(Possível spoiler para a série Mandaloriano, especialmente a temporada 3)

Por Andrey da Silva Aires (CRP 07/33087)


Desde que Mando (nosso protagonista) adquire o Sabre Negro em seu conflito com Moff Gideon na segunda temporada da série, percebemos que esta arma tem uma caracteristica diferente dos outros sabres de luz que vemos tanto em outras séries, animações ou nos filmes: na mão dele, ele tem peso. Sempre foi óbvio para a série que uma arma feita de luz não tinha peso nenhum, jedis sempre pularam, giravam, seguravam e fizeram todos os tipo de acrobacias com eles e o peso nunca foi um fator, então será que especificamente aquele sabre é diferente?

Outra coisa que você pode estar pensando é: “Andrey, tu tá falando de jedi, pessoas que usam a Força” mas na terceira temporada (e antes para aqueles que viram Clone Wars) Bo-Katan também o empunha em batalha, mas nas mãos dela, ele se comporta como qualquer sabre de luz comum na mão de um jedi, e ela não faz uso da Força. Se esse é o caso, a pergunta do título se torna aparente: por que somente nas mãos de Din Djarin o Sabre Negro é pesado?

Para pensarmos sobre isso, acho importante definirmos o que é o Sabre Negro. Esta arma em particular é equivalente (para alguns mandalorianos) à coroa de um rei, e como vemos na série, quem empunha aquela arma empunha o direito de liderar a todos. Esta crença é compartilhada por várias pessoas na série, Bo-Katan acredita piamente nisso, enquanto Din, apesar de entender a arma como símbolo, não vê nela a importância que os demais veem.

Isso, no entanto, não muda o fato de ele carregar a coroa de seu povo, se dando conta da importância disso ou não. E é aqui que está o cerne da questão, o Sabre Negro significa uma responsabilidade perante os mandalorianos, porta-lo é se colocar em um papel, mesmo que ele não quisesse (e ele afirma não querer várias vezes). Mesmo assim, as ações que ele tem não condizem com sua vontade, mas através de seu corpo vemos sua luta interna, e toda vez que ele lutava com o sabre, sempre era exaustivo e torturante.

Muitas vezes nos percebemos em posições onde temos uma responsabilidade com a qual não queremos/sabemos/conseguimos lidar adequadamente, e nessas horas é muito importante observarmos se nossas ações na posição em que estamos condizem com nossas vontades. Muitas vezes, o sofrimento de estar nessa situação advém dessas contradições, mas diferentemente de nosso amigo Mando, podemos nos dar conta da origem disso.

Mas ele também consegue nos dar um exemplo de como resolver esses sofrimentos. Quando ele em frente aos outros mandalorianos, finalmente emparelha sua vontade de não ter a responsabilidade de liderar sua civilização com o ato de entregar o Sabre Negro à Bo-Katan, é que seus ombros estão livres de fato daquela responsabilidade.

Também é interessante pensarmos como Bo-Katan, diferente de Din, era conivente com seus objetivos. Ela em diversas situações afirma querer portar a espada simbolo daquilo que ela acreditava ser seu dever, e podemos ver que no caso dela isso era real, afinal em suas mãos o Sabre Negro era uma grande arma, assim como todos os sabres de luz são. Mesmo sem o símbolo que era o Dark Saber, ela ainda assim buscava agir de maneira a seguir o papel que acreditava ser seu, sendo que para ela o significado de finalmente carregá-lo era a confirmação de um objetivo e não um fardo imposto.

“Ah Andrey, mas o Mando tentou varias vezes entregar o Sabre Negro e a Bo-Katan não quis pega-lo”, sim, é verdade! Ele tentou se desfazer daquilo que lhe causava sofrimento, e por vezes ele falhou, mas é isso aí! Esforço é mais importante que resultado, Din só conseguiu se ver livre do Dark Saber por que eventualmente, após várias tentativas fracassadas de resolver seu problema, ele foi bem sucedido. Se após sua primeira tentativa fracassada ele tivesse desistido, jamais teria se livrado daquilo que lhe causava sofrimento, e o teria prolongado indefinidamente.

Não vou ser simplório e dizer que tudo é muito fácil, e os problemas todos somem com um pouco de vontade. Os problemas das pessoas variam infinitamente em complexidade, mas sempre requerem esforço (em níveis variados) para serem superados. Quando falhamos, existe uma tendência à frustração e ao cansaço e esse é o principal ponto do texto. Esses são sentimentos absolutamente esperados quando falhamos em resolver nossos problemas, mas sua existência não pode significar desistência, e às vezes, isso vai querer dizer pedir ajuda, seja para seus companheiros mandalorianos, para sua família, ou para um profissional da saúde.

Nosso amigo Din Djarin está sempre levando surra atrás de surra, sempre pedindo ajuda para ter quem cuide do seu filho, sendo salvo pelos seus compatriotas e salvando eles também. Esse cara que começa a série sozinho e solitário, tem nos mostrado cada vez mais que nenhum de nós supera tudo sozinho, e a constância com a qual nos esforçamos para superar nossos desafios tem mais importância do que os resultados desses esforços, assim como deve ser.


Andrey da Silva Aires é psicólogo clínico de indivíduos, famílias, casais, especialista em psicologia e sexualidade e mestrando em psicologia. Também é criador da página @andrey.aires.psicologia no Instagram e Facebook onde desenvolve um trabalho focado em abordar conceitos da psicologia de um jeito simples, muitas vezes usando a cultura pop como paralelo para nossa vida.

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