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Castlevania - psicoeducação sobre suicidio

por Andrey da Silva Aires - CRP 07/33087

Com a chegada de setembro, entramos em um mês dedicado a falarmos sobre suicídio, e nós do Psico em Séries vamos fazer nossa parte da única maneira que conhecemos: nerdando! Suicidio é um tópico que pode ser delicado, mas apesar de muito sério, não precisa ser abordado sem leveza (o tanto quanto um tema como esse permite), então vamos descobrir como o Conde Drácula, da série Castlevania da Netflix, pode nos ajudar nesse processo.

Na primeira temporada da série animada que adapta eventos de alguns jogos da franquia Castlevania, vemos um Drácula que tenta ainda interagir com a raça humana, influenciado por sua esposa Mina. Porém, quando ela acaba sendo injustamente morta por fanáticos religiosos, Drácula lida com a situação da maneira com a qual está habituado: de maneira extremamente violenta. Na segunda temporada, o acompanhamos enquanto ele está em uma cruzada para dizimar a todos os humanos como forma de punição por terem lhe tirado o amor de sua vida, e na visão do nosso vilão, (quase) tudo que ele valorizava no mundo.

Porém, esta é apenas a superfície dos acontecimentos. Com o decorrer dos episódios, começamos a perceber que Drácula está em um processo depressivo, onde vemos que ele não está mais tomando conta de si mesmo, não está comendo, e todas as suas ações são destrutivas, tanto para si, quanto para outros vampiros, e especialmente para a humanidade. Seu processo depressivo inclui uma intenção de não sobreviver às suas ações, toda a fúria e a chacina são expressões de uma angústia que ele não conseguia processar, uma angústia que, para ele, só terminaria quando ele também viesse a morrer.

A vida real pode ser bem parecida com o que Drácula faz na animação. O suicídio não tende a ser uma ideia rapida que passa na cabeça de alguém e esta pessoa age rapidamente sobre ela, e sim, algo que em geral é evitado até o último resquício de resistência do indivíduo: quem pensa em tirar a própria vida em geral, sabe a gravidade do que está pensando, e quando finalmente tenta, é devido a não ver outras possibilidades a seu alcance de lidar com seu sofrimento que não seja o fim da vida.

Há três etapas que as pessoas passam relativa ao suicídio:

1. A ideação: Basicamente, é a ideia de que caso não estivesse mais viva, os problemas iriam desaparecer, o sofrimento iria terminar, etc;

2. O planejamento: É quando a pessoa já começa a cogitar diversas possibilidades sobre como iria tirar a própria vida;

3. A tentativa: É quando alguma atitude é tomada com o objetivo específico de levar o indivíduo à morte.

Estas três etapas podem tomar as mais variadas formas, e este texto não pretende tornar ninguém um expert em ideação suicida. Como regra geral, sempre que ouvirmos alguém que conhecemos falando em termos como: vontade de sumir, desaparecer, dormir e não acordar mais, que se não estivesse mais aqui as coisas seriam mais fáceis, ou qualquer outra frase que possa sugerir algo meramente suspeito, podemos indicar a esse indivíduo que ele busque alguém qualificado para conversar sobre esses sentimentos. Esse tipo de frase não significa sempre que alguém pensa em cometer suicidio, mas o problema em estarmos errados é muito menor do que o de estarmos certos, por isso vale a pena ficarmos atentos. Outra alternativa seria notificar a rede de apoio da pessoa com quem nos preocupamos, para criarmos mais pessoas com quem este indivíduo possa contar.

Uma clarificação importante: no caso do Conde Drácula da série, sua tentativa de suicidio vem acompanhada de um quadro depressivo, mas esta não é nem de longe a única dificuldade que pode levar alguém a cogitar a possibilidade de tirar a própria vida. Importa menos a origem dessa ideação do que o fato desta pessoa receber ajuda, por isso caso você conheça alguém nesta situação, não se preocupe com diagnósticos e sim com os sentimentos dela.

Outro aliado importante que uma pessoa que pensa em tirar a própria vida possui é o Centro de Valorização da Vida (CVV), cujo número para ligações é o 188. O CVV é uma linha gratuita nacional, e por mais que uma pessoa esteja sozinha quando estiver passando pela ideação, basta uma ligação para que se receba apoio emocional imediato.

Em Castlevania, Conde Drácula sofre sozinho, mas esse não precisa ser o destino de todo mundo, sendo que ele nunca admitiu que sua intenção com a guerra era morrer nela. Frequentemente, quem pensa em suicidio reluta em admitir devido a não querer preocupar aqueles à sua volta ou por se sentirem fracos ou fracassados por não conseguirem lidar com seus problemas sozinhos, mas não há nada de fraco em tomar a decisão mais impactante que alguém pode tomar: a de terminar com tudo. Mas só porque parece que é a única saída, não quer dizer que seja a melhor.

Caso você que está lendo isso é alguém que passa por essa dificuldade, é importante que saiba que nos momentos onde o suicidio parece a única saída, você está em seu momento mais frágil, e pode não ser a melhor pessoa para tomar decisões relativas a sua própria saúde. Tomar atitudes drásticas em momentos emocionais é quase sempre um problema, mesmo quando não falamos de suicidio, e se em momentos de emoções muito menos intensas isso já não é indicado, certamente no pico da sua fragilidade também não é. Faça o seu melhor para esperar, tente pedir ajuda, alguém na sua volta se importa o suficiente pra te estar com você nesse momento, mesmo se esse alguém acabar por ser um profissional da área da saúde.



Andrey da Silva Aires é psicólogo clínico de indivíduos, famílias, casais, especialista em psicologia e sexualidade e mestrando em psicologia.

Também é criador da página @andrey.aires.psicologia no Instagram e Facebook onde desenvolve um trabalho focado em abordar conceitos da psicologia de um jeito simples, muitas vezes usando a cultura pop como paralelo para nossa vida.

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