por Samantha Alves - CRP 04/54059
Eu conheci a história de Nick e Charlie antes mesmo da narrativa ganhar uma série. Os quadrinhos estavam sendo comentados em grupos de literatura que acompanho e, por curiosidade, resolvi dar uma olhada. Li o primeiro volume em poucos minutos: é apaixonante.
Voltada para o público adolescente, Heartstopper é uma produção gráfica que aborda o desafio de se encaixar em uma sociedade que ama categorizar a sexualidade em “norma”, e como isso bate de frente com quem você realmente é. E, embora haja uma série de temas e reflexões que poderíamos explorar nesse enredo, vou focar no casal central: Nick e Charlie.
Charlie é um adolescente que lida com inseguranças, autocrítica excessiva e baixa autoestima após enfrentar a descoberta dolorosa de sua orientação sexual. O peso do bullying que sofreu moldou suas emoções, levando-o a enxergar-se como alguém “nojento”. Enraizado numa cultura heteronormativa, ele internaliza a homofobia e passa a se ver através dos olhos preconceituosos dos outros. Para lidar com essa dor, Charlie recorre à automutilação, já que a dor física tira o foco do sofrimento emocional. Uma estratégia nem um pouco saudável que ilustra a complexidade de suas batalhas internas.
Essa visão negativa de Charlie sobre si mesmo também contribuiu para que ele fosse vítima de uma relação abusiva com Ben. Ben reforçou ainda mais o sofrimento do Charlie ao tratá-lo com desprezo e manipulação. Ben tinha atitudes egoístas e procurava manter controle sobre Charlie se desculpando a cada vez que o ignorava ou desconsiderava as necessidades dele. Mas Charlie não é um personagem composto apenas por dor e sofrimento. Ele é divertido, leal, cuidadoso, gentil, inteligente e compreensivo. Provavelmente foram essas qualidades que atraíram outra figura da história: Nicholas Nelson.
Nick é uma reviravolta intrigante no clichê do garoto popular. Bonito, charmoso, capitão do time do esporte principal da escola e com seu grupo de amigos aparentemente muito autoconfiantes. Mas ele é diferente: o personagem não é aquele cara valentão que pratica bullying e que precisa rebaixar os outros para se sentir superior. Ele é empático, amigo, sensível e parceiro.
Nick e Charlie juntos protagonizam uma história de amor digna de suspiros. Mesmo com as dificuldades de Nick em se assumir, seu relacionamento nos ensina sobre os elementos essenciais de uma relação saudável.
Diálogo: o casal consegue estabelecer um diálogo. Em situações de crise, até evitam inicialmente “incomodar” o outro, mas depois são sinceros sobre seus incômodos e estabelecem uma escuta mútua. Vemos isso, por exemplo, quando Charlie conta para Nick como foi ser vítima de bullying. Nesse diálogo Nick sente empatia pelo namorado e ambos fazem o acordo de que Charlie irá contar se sentir tamanha angústia novamente. Para uma relação ser saudável, não basta que ocorram inúmeras discussões de relação, as famosas “DR”. É necessário que acordos sejam estabelecidos (e cumpridos): é um passo crucial para se alcançar mudanças reais.
Falando em empatia, Nick demonstrou isso ao Charlie inúmeras vezes. Sempre que o defendia para os demais e se preocupava em como Charlie se sentia por ele ainda estar no armário, Nick mostrava o quanto se importava com o bem estar de Charlie. Por sua vez, Charlie desejou e fez o que pôde para que Nick não sofresse o preconceito que ele sentiu. Definir de comum acordo que Nick só sairia do armário quando se sentisse pronto foi um momento de empatia de Charlie, além de mostrar a capacidade do casal de ter cooperação e parceria. Percebemos essas características também quando Charlie ajuda Nick com as tarefas escolares e Nick ajuda Charlie nos treinos de rúgbi. É nítida a admiração que nutrem um pelo outro, mesmo que, de brincadeira, transmitam essa admiração nos apelidos de “gigante do rúgbi” e “nerd”. São as habilidades em destaque de cada um e que são admiradas mutuamente.
Esses elementos: diálogo, empatia, parceria e admiração, quando colocados em prática, contribuem com a formação de uma relação baseada no respeito e na flexibilidade. E se formos definir o amor não serão a esses valores que vamos chegar?
Nick e Charlie nos lembram que o amor é possível, independente do que os outros digam, do passado doloroso ou da nossa própria busca de identidade. A única condição? Estar aberto para ele. Você está?
Meu nome é Samantha Alves e criei um projeto chamado "Amores Imperfeitos", cuja missão é contribuir com a qualidade de vida das pessoas através de relações amorosas saudáveis. Sou Psicóloga Clínica pela Puc Minas (CRP 04/54059) e já ando há um tempo nesse mundo de terapia de casais. Além disso, estou lá na UFMG, correndo atrás do meu mestrado em Cognição e Comportamento em uma pesquisa sobre psicopatologia e Covid-19. Tenho formações em Terapia de Casais, Psicologia Baseada em Evidências, Terapia Cognitivo-comportamental e Psicopatologia. Compartilho o meu conhecimento sobre relacionamentos amorosos no Instagram: @samantha.psi
Bora transformar Amores Imperfeitos em histórias incríveis? Estou aqui pra isso! 🚀
Contatos: (31) 98543-5300 – samantha.psi@yahoo.com
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