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Por que Debra Newell ficou com John Meehan: Controle Coercitivo, entendendo essa forma de abuso.

Atualizado: 10 de set. de 2019

por Patrícia Atanes de Jesus – CRP 06/37052

“Acreditamos no que queremos acreditar. E às vezes negamos as coisas

que sabemos em nosso íntimo que são as coisas certas.” Debra Newell


Apesar de vivenciar quatro casamentos fracassados, Debra Newell (Connie Britton) nunca desistiu de seus sonhos de encontrar o homem ideal, o verdadeiro amor, sua alma gêmea. E, quando ela se depara em um aplicativo de encontros com o perfil de namoro do belo médico John Meehan (Eric Bana) de mais de 50 anos, ela acreditou que finalmente o tivesse encontrado.


Depois de algumas trocas de mensagens, o casal acabou terem seu primeiro encontro. Um médico atraente e charmoso, espirituoso, amoroso e veterano de guerra com um coração de ouro, John superou as expectativas de Debra, e o amor logo floresceu. Era natural, então, que o relacionamento deles se desenvolvesse rapidamente. No terceiro encontro, ele disse a ela “eu te amo” e, no espaço de apenas dois meses, os dois se casaram. Debra realmente acreditava que seu novo marido era “bom demais para ser verdade”, inconscientemente, ela estava correta.


O que Debra provavelmente experimentou com John tem um nome. O fenômeno é algo chamado controle coercitivo, que é uma forma de controle psicológico, onde um dos parceiros exerce controle total sobre o outro, não necessariamente por meio de violência - mas através de manipulação, gaslighting, e outras coisas ligadas ao abuso psicológico.


John Meehan era um especialista em controle coercivo, uma forma perigosa de abuso que depende da manipulação e exploração para ganhar discretamente "dominação total" e controle sobre a vida de alguém.


John Meehan aparentemente era o parceiro perfeito. O belo e carismático autoproclamado médico estrategicamente utilizou-se de suas habilidades de manipulação com Debra Newell, constantemente elogiando-a por sua beleza, habilidades e sucesso especialmente profissional. Ele era seu confidente e maior defensor, fazendo-a sentir-se segura e amada durante o namoro recheado de redemoinhos emocionais. Porém os mesmos traços que faziam John parecer um parceiro tão invejável eram, na realidade, manobras calculadas e habilidosas para ganhar controle sobre sua vida e manipular todas as suas vulnerabilidades através do uso de controle coercitivo.


O controle coercitivo se apresenta de formas diferentes para cada vítima, normalmente os comportamentos do abusador é feito sobre medida, através de um plano personalizado para atingir diretamente seu foco de interesse. Esses comportamentos podem incluir estratégias como o uso de táticas de pseudo-cuidado que parecem ser atenciosas e dedicadas, enquanto na realidade o perpetrador está apenas armazenando informações sobre a vítima ou criando uma atmosfera de codependência.


A personalidade charmosa e carismática de John que quase parecia "boa demais para ser verdade" era uma de suas armas mais poderosas. Ele vestia uma máscara de uma coisa, mas na verdade o que estava acontecendo nos bastidores era que ele estava atento e obstinado em obter o máximo de informações possível sobre Debra, para fortalecer seu controle e criar co-dependência. John preencheu todas as lacunas na vida de Debra, para ela, ele era o responsável pela “felicidade” que ela estava vivenciando (ou acreditava estar).


Pouco a pouco, John ganhava mais informações sobre as contas bancárias de Debra, hábitos de trabalho, dinâmicas familiares, relacionamentos românticos passados ​​e inseguranças, assim John usou a informação que colheu/juntou para se transformar no parceiro perfeito de Debra, retratando-se como um médico religioso de sucesso que valorizava sua família, enquanto na realidade ele era um ex-condenado com um vício em drogas que nunca havia sido médico. No início do relacionamento, ele também começou a isolar Debra de maneiras “sutis” e “diferenciadas” de suas filhas e outros membros da família, plantando sementes de dúvida sobre os motivos e intenções das pessoas mais próximas a ela. Isolamento é um dos comportamentos que encontramos neste tipo de abuso, pois para controlar melhor, temos que afastar todos e tudo que possa interferir no relacionamento.


Usando bajulação e charme, os perpetradores de controle coercivo frequentemente adoram bombardear suas vítimas, criando um sentimento de amor “inebriante” que atrai suas vítimas e lhes dá uma falsa sensação de segurança. As vítimas por estarem totalmente envolvidas emocionalmente não conseguem compreender que esses comportamentos são apenas táticas que ele está usando e não sentimentos reais ou genuínos.


Precisamos entender que quando alguém se apaixona, há um investimento emocional, mesmo que seja com o sentimento de amor em si. E assim, para Debra, ela entendeu que 95% do comportamento de John era ruim, mas havia cinco por cento que ela podia barganhar e alavancar, esses cinco por cento incluíam pensamentos sobre não querer ficar sozinha, querer sentir-se necessária, amada e respeitar o caminho que ela acreditava Deus lhe reservou.


Falamos aqui de uma mulher, adulta, inteligente, bem-sucedida que, acaba por se tornar quase totalmente desfeita psicologicamente, de modo que perde o senso de si mesmo, do que ama, do que gosta ou sente satisfação em fazer, de sua própria essência de “ser”.


E isso pode acontecer com qualquer pessoa, independentemente de classe social, gênero, grau de instrução e outros, temos que ficar atentos aos sinais.


Patrícia Atanes de Jesus é psicóloga junguiana, CRP 06/37052 com Especialização em Terapia Sistêmica Familiar e Avaliação Psicológica, além de Psicologia Jurídica. Atende Crianças, Adolescentes e Casais em consultório particular em São Bernardo do Campo/SP. Seus interesses estão voltados para relacionamentos, transtornos e síndromes diversas que atingem os adolescentes (incluindo depressão, suicídio). Sua paixão está no entendimento do funcionamento da Psique e seus simbolismos. Acompanhe seu trabalho em:

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