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Modern Family: A importância de Clive Bixby e Julianna

por Andrey da Silva Aires - CRP 07/33087

Como o título indica, Modern Family é uma sitcom que acompanha diversos núcleos de uma mesma família em suas mais variadas dificuldades e dilemas da vida. Assim como o lar de um dragão, a série é uma caverna cheia de tesouros na forma de temas que podemos utilizar para sobre psicologia, mas dessa vez vamos pensar nos personagens Claire e Phil enquanto casal, deixando de lado sua função de pais.

Em episódios como “My Funky Valentine” e “Do You Believe in Magic” acompanhamos o casal em momentos onde eles decidem ter um encontro diferente para mudar sua rotina relacional. Durante esses encontros ambos combinam um local para se encontrarem, mas desta vez, ambos assumirão personas diferentes e vão agir um com o outro como se fosse seu primeiro encontro.

Phil decide encarnar Clive Bixby, um empresário de sucesso, confiante que também é bom em conversação enquanto Claire se torna Julianna, uma mulher solteira que demonstra ter consciência de seus desejos, principalmente os sexuais. Toda esta situação acontece durante durante os episódios temáticos do dia dos namorados, momentos onde o casal decide apimentar sua relação com uma técnica conhecida como roleplaying.

Embora muito interessante, o uso do roleplaying não é o interessante aqui. o que quero discutir é a necessidade dele. Especialmente em um mundo pós pandêmico, onde é comum passar longos períodos de tempo em casa, de pijama e às vezes, até sem tomar banho, muitos casais têm passado por marcantes dificuldades em iniciar situações de cunho sexual. Isso, no entanto, não é algo novo, afinal dificuldades sexuais não nasceram com a pandemia e as pessoas já passavam por elas muito antes.

A presença mais constante dos filhos em casa durante a pandemia, estresses no trabalho, a rotina do dia-a-dia e muitos outros fatores podem contribuir para que casais simplesmente deixem de transar. Isto não é incomum, mas nunca é adequado que um casal deixe de ter intimidade, e estamos acostumados a abordar o assunto do ponto de vista emocional, só que é igualmente que casais permaneçam conectados de um ponto de vista físico também, não importa quanto tempo de relação eles tenham.

A situação de Claire e Phil se assemelha a de tantos de nós, e sua iniciativa de tentar uma “técnica” para apimentarem sua vida sexual é muito legal! Não é sempre que casais têm abertura para introduzir uma prática sexual nova em suas vidas conjugais, especialmente casais que estão a muito tempo juntos, podem acabar se sentindo constritos em sua rotina, com pouca possibilidade de variação em suas atividades íntimas.

Sexo muitas vezes passa a ser uma ocasião burocrática na vida, e casais podem precisar de um empurrãozinho para “chegar lá”. Isso por que sexo é uma via que casais caminham juntos, e não um destino ao qual se pretende chegar, sendo que uma dificuldade comum é sentir que essa via ja foi viajada da mesma forma tantas vezes que a viagem em si passa a ser monótona, somente importando o destino.

Técnicas como o roleplaying podem ser estradas diferentes que um casal usa para tornar essa viagem novamente nova e excitante. Há um mundo de apetrechos, “brincadeiras”, e estratégias para as pessoas se valerem, e geralmente o que leva cônjuges a não falarem sobre esses caminhos diferentes são fatores enraizados e difíceis de serem percebidos, como problemas de comunicação, fatores sociais, fatores pessoais entre tantos outros.

Não é incomum que os parceiros tenham fantasias sexuais que nunca revelaram ao outro por vergonha, medo de reprovação ou de serem ridicularizados. Está tudo bem ter esse frio na barriga, mas considerem que se vocês não tem abertura para se exporem dessa maneira, será que está tudo bem com a relação? Mesmo a testagem dessas estratégias novas pode ser o combustível que o casal precisa para voltar a viajar a via do prazer, já que a percepção da disponibilidade de agradar ao outro muitas vezes ja é o suficiente para aumentar o prazer nas relações sexuais.

Chegar ao ponto onde um casal fala abertamente sobre esse tipo de coisa pode ser bastante difícil, especialmente por que é bastante comum que isso seja reprovado socialmente, como se a introdução de uma brincadeira ou apetrecho signifique que os parceiros não são mais o suficiente um para o outro. Se os parceiros também não estão acostumados a trocar feedbacks sobre seus momentos íntimos, também pode ser mais difícil chegar ao ponto de ter uma conversa sobre a introdução de uma nova prática sexual.

É importante reparar que com dificuldades sexuais, raramente se resolve a situação falando sobre sexo porque diificuldades que tangem o assunto tendem a ter mais impacto nas relações do que o ato de transar em si. Entretanto, não faz mal lançar mão de novas e variadas maneiras de agradar o(a) parceiro(a), já que de forma geral, todo mundo quer ter ótimas relações sexuais.

Em meio a suas desventuras, Phil e Claire tendem a se envolver em confusões que nem lhes permitem transar no fim da noite, mas ambos descobriram que o excitante para eles era o jogo (mesmo que apenas de interpretação) da conquista, de ser outra pessoa que não tem os mesmos problemas e leva outra vida que pode ser muito excitante para aquela pessoa que eles querem continuar a conquistar. A importância de Clive e Juliana é nos mostrar que aquele casal ainda se ama o suficiente para se dispor a entrar em várias situações embaraçosas pela chance de dar ao parceiro(o) uma grande memória (além de claro terem uma ótima noite de sexo).



Andrey da Silva Aires é psicólogo clínico de indivíduos, famílias, casais, pós graduado em psicologia e sexualidade e mestrando em psicologia.


Também é criador da página @andrey.aires.psicologia no Instagram e Facebook onde desenvolve um trabalho focado em abordar conceitos da psicologia de um jeito simples, muitas vezes usando a cultura pop como paralelo para nossa vida.



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