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Jane, a Virgem

Atualizado: 1 de mar. de 2019

Por Psicóloga Karine Donni CRP 07/25551


Algumas séries surgem no nosso caminho e começamos a assistir pensando que será somente um episódio, mas quando percebemos já terminamos a primeira temporada. Já ouvi esse relato sobre várias séries e de pessoas diferentes, mas nunca havia acontecido comigo até me deparar com “Jane The Virgin”. Particularmente, a personagem aguçava minha capacidade interpretativa, pois compreendia suas convicções e identificava as suas resistências. Percebia forte protagonismo feminino na série, ao retratar a criação de filhos e a mulher como provedora do lar, na ausência da figura masculina.


A personagem principal é Jane Gloriana Villanueva, uma jovem de 23 anos, criada pela avó materna e a mãe, respectivamente Xiomara Villanueva e Alba Villanueva, que está namorando Michael Cordero e, ao passar por um exame de rotina ginecológico, acaba sofrendo uma inseminação artificial por engano da médica e fica grávida. A partir deste fato, se inicia uma teia de acontecimentos interligados e que acabam por envolver quem está assistindo a história, que é cheia de flashbacks.


O bebê que Jane espera é filho do dono do hotel em que ela trabalha, Rafael Solano, que não poderia mais ter filhos em razão de sua infertilidade após um tratamento de câncer. O dono do hotel é casado com Petra e, até descobrir a gestação de Jane, planejava pedir o divórcio à mulher. E, é aí que voltamos ao princípio desta história, por que a inseminação artificial de Jane, foi realizada por Luísa, irmão de Rafael e cunhada de Petra. Isso por que, quando Petra descobriu que Rafael iria pedir o divórcio, solicitou fazer uma inseminação com o material de Rafael que estava congelado em uma clínica que a cunhada trabalhava. Nesta mesma época, Petra estava mantendo um relacionamento extraconjugal com o melhor amigo de Rafael. Quando Jane descobre a gravidez, sabendo que o pai da criança é casado e impossibilitado de ter mais filhos, avalia passar a guarda do bebê para o casal Rafael e Petra. Se ela vai passar a guarda ao casal ou resolve criar o bebê, mesmo sem ajuda de Michael, é a questão que envolve vários conflitos internos da protagonista, aos quais podemos julgar normais e esperados na gravidez e puerpério, principalmente se a mãe é neurótica como Jane.


A notícia da gravidez na família e no grupo de amigos, causa um efeito de transformação, a fim de poder acolher ou acomodar este novo membro, dito por vários teóricos do desenvolvimento infantil e da psicologia sistêmica. Portanto, a vinda do bebê acaba por provocar vários flashbacks nas mulheres que já passaram pela experiência da maternidade. A gestante começa a refletir sobre sua infância e adolescência, analisando a sua própria história de maternidade e paternidade. Para Freud, esta mulher que gesta, carrega em si algo precioso e resolve os conflitos edípicos com o pai. Presto estes esclarecimentos com o objetivo de contar que, Jane Gloriana Villanueva teve como pai a história mentirosa da Xiomara, de que seu pai foi um herói para o país e que não houve tempo de ele conhecer a filha. A verdade é que o pai de Jane é Rogelio de la Vega, um ator egocêntrico e carente, que veste lilás predominantemente, e ele não sabia da sua existência de Jane. Portanto, ela conhece o pai durante as primeiras semanas de gestação e este, através de dinheiro e influências, vive buscando recompensar a filha pelo tempo que não tiveram juntos. A impressão que fica na série é a de que a função paterna, de passar uma visão de mundo, foi bem desempenha pelas Villanueva. A personagem que carrega uma boa dose de resiliência e determinação, não poupa esforços para conseguir conquistar seus sonhos, traçando metas e cumprindo todas as suas responsabilidades, além de contribuir com a casa.


Alba, tendo a neta apenas 10 anos de idade, ensinou que a virgindade era como uma rosa branca que depois de amassada, não voltaria ao formato original. A avó fez com que a menina fizesse uma promessa de que manteria sua castidade até o matrinônio. A preocupação de Alba era que Jane repetisse o mesmo que aconteceu sua própria filha, a gravidez na adolescência. Xiomara engravidou de um colega de escola aos 16 anos. A matriarca era uma fanática religiosa e teve que criar a filha praticamente sozinha, após ter vindo com o marido para um estado americano, sem visto de permanência. Jane acompanhava a ‘avozinha’ todos os domingos na missa e, seu estado de busca constante pelo otimismo e positividade, acabavam mascarando seu jeitinho neurótico e perfeccionista desde a infância.


Os flashbacks da infância e adolescência, tanto de Jane como de Xiomara (mãe de Jane), transmitem a mensagem, de forma cômica, de que não podemos enterrar nosso passado. Mostram sempre como tinham que resolver no presente o que deixaram por resolver no passado. Aparecem cenas de bullying e algumas cenas clássicas escolas ou familiares. Talvez, sejam as cenas mais divertidas e fofas da série, pois são nestes episódios que mais transmitem a mensagem de que o vínculo familiar entre essas três mulheres é forte. Quase renomearia essa série de as três mosqueteira Villanueva.


Assim como o corpo de gestante de Jane e seu psiquismo vai abrindo espaço para acolher esse serzinho, que permanece sem nome e sem se saber o sexo até o momento do parto, as três mulheres também vão conseguindo acolher Michael, Rafael e Rogelio. Assim, se constrói uma boa rede de apoio para a Jane e seu bebê, para poder lidar com a ascensão dos vários conflitos puerperais. Quanto ao sexo do bebê, existe uma crença da família de que os bebês Villanueva demoram para nascer e são sempre meninas, mas Jane teve um menino. O nome do bebê, que nasce no final da primeira temporada da série, homenageia o avô materno da protagonista, se chama Mateo Gloriano Rogelio Solano Villanueva.


Ao longo da série, o plano de fundo, é uma jovem que tinha sua vida toda planejada e com o sonho de ser uma grande escritora, namorando um rapaz com quem espera casar e compartilhar a agenda, para então constituírem uma família e terem filhos. A ordem dos fatos praticamente inverteu, mas Jane permaneceu buscando aprimorar a escrita e até conseguiu ingressar em um curso de pós-graduação, conquistando seus objetivos de forma honesta e respeitosa. Em contraponto, o pai de seu filho é um empresário rico, jovem e musculoso, com uma família cheia de segredos criminoso. Os episódios ilustram o enorme contraste entre as classes, principalmente quando encena a elaboração do acordo entre os pais sobre como irão educar Mateo, que se inicia desde os primeiras meses da gestação.


Karine D Donni, psicóloga (CRP 07/25551) e Educadora Parental certificada pela Positive Discipline Association/USA. Psicoterapeuta Clínica de crianças, adolescentes e adultos. Atende em consultório particular em Porto Alegre/RS. Acompanhe seu trabalho em:

www.instagram.com/sementedgente

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