por Giovanna de Boni Fraga, CRP 07/29470
Sherlock Holmes não é um sociopata de alta funcionalidade. Então qual seria o diagnóstico deste personagem tão peculiar?
Ver a série Sherlock sem se questionar o que ele tem, por que age assim, é impossível. A maneira com que lida com o seu trabalho, seus amigos e sua família é um tanto quanto diferente. Sherlock diversas vezes se intitula como sociopata funcional. No entanto, vimos anteriormente que este diagnóstico não se enquadra ao que o personagem apresenta. Apesar de não seguir normas e leis quando acredita que elas não se aplicam; ter pouco apreço as pessoas a sua volta; ter ataques de irritabilidade e impulsividade ele não fecha diagnóstico. Sherlock sente remorso quando percebe que feriu os sentimentos de Watson; tem afeição com as pessoas que ele se importa. Se ele não é um sociopata funcional, qual seria seu diagnóstico? Sherlock disse uma vez: ‘’o mundo está cheio de coisas óbvias que ninguém jamais observa’’.
Sherlock tem características únicas. O detetive particular da Rua Baker 221 demonstra intensa atenção aos detalhes; falta de interesse em relacionamentos interpessoais e tendência ao monólogo. Ele tem bastante capacidade de concentração e racionalidade precisa. Seus conhecimentos e interesses são profundos, contudo escassos. Sherlock tem a habilidade de ver o mundo com um entendimento diferente do que a maioria das pessoas, focando em detalhes que passam despercebidos pelos outros. Ele fica tão orgulhoso com a importância que dá aos detalhes que o chama de método. Holmes tem dificuldade de socializar, e de compreender os sentimentos do próximo, sua forma de interagir é direta sendo até mesmo arrogante. Mesmo com seu melhor amigo Watson, os elogios que ele lhe demonstra parecem insultos. Ele tem tendências ao isolamento, podendo ficar dias sem falar.
O personagem se inclina por um diagnóstico de transtorno bipolar, pelo fato das mudanças de humor que vão da euforia e hiperatividade, junto de comportamentos excêntricos e arrogantes, que oscilam com episódios depressivos. Contudo, o detetive quando estava concentrado em um caso, não dormia por dias, com isso, a mudança de ânimo pode ter relação ao seu trabalho. Quando trabalhava ficava empolgado, animado. E nos momentos em que não tinha nada a produzir se tornava deprimido. Outro ponto a se considerar quanto às mudanças de humor, se dá pelo uso de substâncias psicoativas. Ele as usava quando estava desocupado e melancólico, não quando estava atarefado e entusiasmo.
O diagnóstico que melhor se enquadra ao personagem Sherlock Holmes é a síndrome de Asperger. As pessoas com essa síndrome têm dificuldades de entender regras sociais; capacidades intelectuais avançadas; dificuldade de compreender o que os demais sentem ou pensam, ou seja, de se relacionar; tem comportamentos estranhos ou de um modo inapropriados considerado pela sociedade; desenvolvem conhecimento detalhado sobre assuntos específicos; parecem insensíveis; procuram tempo para ficarem sozinhos; tem interesses intensos e focados. Sherlock Holmes então tem síndrome de Asperger, e não é um sociopata funcional. Seu irmão Mycroft também possui as mesmas características, porém, tem mais propensão a solidão do que Sherlock. Ou seja, os irmãos Holmes não apenas possuem síndrome de Asperger, como mostram que a síndrome pode ter um componente genético*.
Sherlock Holmes, detetive particular da Rua Baker 221 tem síndrome de Asperger. Tal como dissera o personagem certa vez: ‘’uma vez eliminado o impossível, o que restar, não importa o quão improvável, deve ser verdade’’. O que quero dizer com isto é que mesmo que ele se considerasse um sociopata funcional era impossível que ele fosse devido aos critérios diagnósticos, contudo, o que restava era a síndrome de Asperger, e por mais duvidoso que fosse de acreditar é o que de fato é verdadeiro. Mesmo com toda a sua expertise Sherlock não pode perceber o que estava por trás de um fato óbvio.
Nota 1: componente genético – ainda não há estudos suficientes sobre a Síndrome de Asperger ter relação com fatores genéticos.
Giovanna de Boni Fraga é Psicóloga formada pela PUCRS em 2018, CRP 07/29470, e escritora. Tem experiência em atendimento a crianças e adolescentes, grupos terapêuticos, orientação vocacional e escrita criativa.
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