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Como Tracy conheceu o amor?

por Giovanna de Boni Fraga - CRP 07/29470


How I Met Your Mother é uma sitcom estadunidense da CBS, que teve sua estreia no ano de dois mil e cinco, que conta com nove temporadas de um total de duzentos e oito episódios. A série retrata a vida de Ted Mosby e dos seus amigos, que é narrada pelo próprio aos seus filhos, vinte e cinco anos mais tarde. O Ted do futuro, conta então aos filhos as histórias e aventuras que o levaram a conhecer a mãe deles. Ao longo dos anos, muito se especulou entre os fãs e os personagens da série sobre quem era a tão famosa mãe da qual a narrativa se tratava. Foi na nona e última temporada que resolveram acrescentá-la no elenco regular para contar um pouco mais sobre a sua história através da sua própria perspectiva dos fatos. Tracy McConnell, também conhecido como a mãe, teve um episódio inteiro para contar um pouco sobre como conheceu o amor da sua vida, Ted Mosby, que enquanto ela não chegava, ele sofria pelos seus sentimentos não correspondidos por sua melhor amiga, Robin.


A história contada até então por Ted Mosby de como conheceu a mãe de seus dois filhos, chegou a vez de Tracy McConnell relatar a sua versão. Aos olhos de Ted que sempre declarou diversos momentos bons ao lado da esposa, dava para entender que a vida parecia ter sido fácil para ela, porém, no episódio dezesseis da nona temporada, podemos ver que não foi bem assim. Talvez por querer focar nos melhores instantes, sem pensar nos não tão interessantes, e também, não temos como saber até que parte foi revelado sobre sua história antes de conhecer seu parceiro romântico. Atenciosa, carinhosa e generosa, de um jeito encantador, com um toque bastante sonhador, Tracy McConnell era só amor. Difícil mesmo era não gostar dela. Seus gestos sempre cativantes, de sentimentos gratificantes, com palavras relevantes faziam sempre com que os outros se sentissem bem. Aos vinte e um anos, Tracy tem uma reviravolta na sua vida que a faz perder o controle daquilo que parecia como certo para o seu futuro.


No dia do seu vigésimo primeiro aniversário, Tracy tem a revelação de que seu namorado de longa data, Max, morreu de maneira trágica. A série não explica como nem onde foi que aconteceu a tragédia, apenas mostra o luto de Tracy. Abalada com a morte do seu primeiro amor, ela não consegue sair de casa por cerca de dois anos. Preocupada, Kelly, sua melhor amiga, resolve fazer com que a garota saia um pouco de casa para se divertirem juntas no dia de São Patrício. No início, Tracy fica bastante receosa, tenta dar diversas desculpas a Kelly para não deixar seu sofá quentinho, porém, como uma boa amiga ela rebate todas com boas soluções. Fora da sua zona de conforto, Tracy não consegue fazer nada além de reclamar da longa fila do banheiro, da quantidade de urina fora do recinto, então decide voltar para casa, mesmo sua amiga dizendo que não é a primeira vez que a deixa na mão, ela tenta contestar só que encontra um antigo professor de música da sua época de escola, o que acaba se tornando uma excelente desculpa para voltar para casa.


Ignorando totalmente as palavras de Kelly, Tracy retorna ao lar junto do seu professor de música, pois tem a brilhante ideia de doar o seu violino que por anos ficou guardado pegando poeira em um canto qualquer. Só que não ela não poderia prever de que as coisas acabariam ficando um pouco estranhas quando ele decide usar sua técnica de sedução e acaba dando muito errado. Tracy reflete que mesmo os rapazes mais legais acabam se tornando esquisitos em Nova Iorque, e o professor acaba concordando que foi se perdendo mesmo ao longo dos anos. Ela segue refletindo e diz que se sente tão perdida, que nem sabe mais o que está fazendo da sua própria vida. O professor a questiona sobre o que ela quer fazer da vida, Tracy responde que quer acabar com a pobreza, e ele declara que toda a decisão que ela tomar de agora em diante deve ser para isso, o que a faz refletir e esquecer completamente da técnica de sedução usada por ele minutos atrás.


É nesse momento que a vida de Tracy começa a mudar, pelo menos na questão profissional, pois ela passa a estudar economia, monta uma banda com temas econômicos onde é baixista e vocalista. Além, é claro, de ter uma nova colega de quarto chamada Cindy, a quem ela conta que não namora mais depois de perder Max. Tracy se descreve como ‘’antiquada’’, afirmando que acredita que todos tem apenas uma alma gêmea com a qual podem se conectar e que ela já o conheceu, e o perdeu para sempre. E é nesse instante que Ted entra na sala de aula errada e começa a dar sua palestra para a classe. Ele até mesmo faz uma piada infame da qual apenas Tracy dá risada, mas não foi naquele dia que eles se conheceram de fato. Antes, ela conhece Darren, um rapaz fã da banda que aos poucos assume e corrompe a banda, para em seguida a expulsar; e também, Louis, que se torna seu namorado alto, moreno e super homem.


Tracy é feliz com Louis, ele acaba sendo seu porto seguro enquanto passa dificuldades com Darren na banda, porém, ela percebe que não sente que há amor verdadeiro evidente. Os dois se divertem juntos, só que algumas divergências acabam atrapalhando um pouco a dinâmica do casal. Tracy é bastante carinhosa, divertida e brincalhona, já Louis é mais reservado, sério e prático. Além do mais, ela ainda se sente presa ao passado, onde Max ainda era presente em sua vida, não uma mera lembrança distante. Pensando por esse lado, muitas pessoas têm essa mesma dificuldade que Tracy de superar um amor antigo. Seja por conta de uma tragédia, ou de uma desilusão, ou até mesmo de um trauma dentro de um relacionamento. Isso faz com que o passado esteja sempre presente assombrando a possibilidade de um novo futuro. Pois mesmo sendo evidente que as pessoas não são iguais às outras, já que cada uma têm características muito particulares e únicas, ainda assim, quando se vive uma decepção amorosa existe um receio de vivenciar outra vez.


Superar um amor antigo é desafiador. Se com o apoio de um psicólogo já é complicado, quem dirá sozinho. Mas não falo aqui sobre paixões advindas no calor da emoção, e sim de sentimentos profundos e verdadeiros construídos com o tempo. A paixão é aquela agitação instantânea que nos faz tomar impulso e agir em direção ao que queremos; já o amor é quando a animação do início se torna mais tranquila e focada para se construir juntos um relacionamento em conjunto. A paixão é quando o eu quer falar mais alto do que o outro, aos berros para ver se há encanto; o amor não, é quando o nós consegue declarar sem precisar de palavras, pois se entende através do olhar. Apaixonar não quer dizer necessariamente amar, pois se não estamos dispostos e disponíveis para construir um relacionamento saudável isso pode ser uma aventura, uma carência, um vazio, menos amor. Por isso, quando Tracy diz que nunca mais vai se apaixonar, isso acaba não sendo uma verdade, pois o ato de se apaixonar vem da paixão, então acontece quantas vezes a pessoa estiver com vontade de sentir uma nova emoção, mas não quer dizer que esteja disposta e disponível para construir um amor, talvez só queira viver uma paixão.


Pelo visto, ao menos do que foi mostrado ao longo do episódio dezesseis da nona temporada, Tracy não era de viver paixões, pois como ela mesma havia se denominado era ‘’antiquada’’ ao se tratar de amor. Só que ela demorou um pouco de tempo para perceber que antes de você amar uma pessoa com todo o seu ser, é preciso amar a si mesmo, pois só assim consegue se entregar por inteiro para construir uma relação saudável de ganha-ganha. E para isso, ela teve de iniciar uma jornada em busca de um sonho; confiar nas pessoas; quebrar a cara por isso; arriscar acreditar outra vez; se entregar a uma paixão; aprender a dizer não mesmo com dor no coração; e finalmente, deixar o passado no passado. Não quer dizer que foi fácil, mas necessário para se reencontrar e voltar a estar disposta e também disponível para amar. Foi assim, depois de todos esses altos e baixos, que Tracy conheceu o amor.


Giovanna de Boni Fraga é escritora e psicóloga, formada pela PUCRS. Idealizadora do Projeto Porta Adentro: relatos de tempo em casa; Coautora do aplicativo Amar é; Editora da equipe Psicologia em séries.

Através do autoconhecimento e da escrita terapêutica ajuda pessoas a se conectarem com a sua própria criatividade para a resolução de problemas.

Atende crianças, adolescentes e adultos de forma presencial na cidade de Osório - RS, e online para as demais cidades do Brasil.

Seus interesses estão voltados no desenvolvimento do autoconhecimento através da escrita terapêutica, na criatividade como resolução de problemas, e na saúde e bem-estar através da atenção plena.


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