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Claire Browne: a realidade feminina no ambiente hospitalar

por Giovanna de Boni Fraga, CRP 07/29470


Na série The Good Doctor mostra a vida de residentes em medicina cirúrgica no San Jose St. Bonaventure Hospital, na Califórnia, nos Estados Unidos. Eles têm de lidar com os mais diversos casos voltados a cirurgia, desde transplante de fígado até separação de gêmeas siamesas. Uma das personagens protagonistas da série é Claire Browne, uma mulher independente, forte, e com extrema empatia. Ela é a única mulher residente no grupo de homens na primeira temporada. De vez em quando, uma nova mulher aparece para ajudar, contudo, por ser um ambiente voltado ao mundo masculino, Claire tem de se deparar com o fato de que as mulheres precisam competir para ocupar espaço de respeito, e reconhecimento.


Claire Browne assim como a maioria dos personagens na série é uma mulher negra que precisa lidar além das questões femininas, com a questão de cor de pele. Em um dos episódios da primeira temporada, ela teve de atender a um paciente racista em que ela precisou manter a calma para poder ajudar o paciente, porém ela sentiu extremo desgosto, e ao longo do episódio foi percebendo que isso não a ajudava a curar o paciente, e ele também não parecia ter criado confiança nela pelo modo como ela estava agindo: com bastante afastamento, pouca empatia, e muita raiva. No final, ela conseguiu salvar o paciente, pois se deu conta de que a vida dele corria risco, e que ainda que ele fosse racista, era o dever dela como médica ajudá-lo. Mas antes ela relutou, conversou com os seus superiores, e eles falaram que ela precisava deixar de lado as questões pessoais e focar no seu trabalho.


Quanto ao ambiente de trabalho em sua maioria masculina, ela trabalha bem com os homens, mantendo compostura, respeito e simpatia. Ela nunca se mostrou superior, já que cada um tem suas qualidades, mesmo que todos trabalhem na área de cirurgia cada um se mostra melhor em determinada situação. Claire teve de lidar com assédio de um médico que estava auxiliando os residentes. No começo ela achou que se tratava de uma simpatia exacerbada do colega, mas com o passar dos dias foi notando que ele estava sendo mais do que amigável. Ele a convidou para sair, e Claire disse que não. Ele insistiu dizendo que ela havia saído com outro colega. E com isso, Claire percebeu que ela estava certa por desconfiar dele.


As outras mulheres que aparecem para ajudar vez ou outra são atenciosas e dedicadas, mas é possível perceber certa competição feminina para se destacar num ambiente voltado para o mundo masculino. Apesar de Claire não gostar de competição, brigas, ou escândalos, as mulheres que apareceram para ajudar fizeram com que, algumas vezes, ela por pouco não perdesse a tranquilidade. Claire sabe o quanto é difícil obter o respeito dos colegas, e por isso, precisa dar o melhor de si. Contudo, ao se deparar com algumas mulheres, ela nota o quanto elas agem como se fosse uma competição àquele ambiente masculino.


A história de Claire nos leva a pensar no quanto a mulher precisa ser forte, independente, sem perder a sensibilidade para poder conseguir respeito num ambiente voltado ao mundo masculino. Apesar de as mulheres estarem cada vez mais ganhando espaço nesses ambientes, esse relato não é muito distante do que ainda vemos na realidade. Ainda existe assédio quando se trata de ser uma mulher num lugar em que a maioria das pessoas são homens. Ainda existe competição feminina para ganhar voz, respeito, independência. Existe racismo, preconceito devido à cor de pele, orientação sexual e gênero. Tudo isso ainda faz parte da nossa realidade.


Aos poucos mulheres, LGBTQIA+ e negros ganham voz, respeito dos colegas, superiores e das pessoas. E sim, os homens também sofrem num ambiente de trabalho, tendo que competir para poder se destacar na sua função. Contudo, se juntos com respeito conseguirmos nos ajudar colocando-nos no lugar um do outro; auxiliando-nos para que possamos cada um no seu tempo expressar sua voz para o mundo, poderemos nos tornar uma sociedade com mais empatia, respeito, e amor pelo próximo. Quando cada um faz a sua parte para melhorar a sociedade, todos nós ganhamos.


Giovanna de Boni Fraga é Psicóloga formada pela PUCRS em 2018, CRP 07/29470, e escritora. Tem experiência em atendimento a crianças e adolescentes, grupos terapêuticos, orientação vocacional e escrita criativa.


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