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ARKANGEL: 5 lições importantes sobre superproteção

por psicóloga Aline Ribeiro Cestaroli - CRP: 06/107500


Se você pudesse, colocaria seu filho dentro de uma bolha e não deixaria que nada de mau lhe acontecesse? Você não suporta a ideia de que algo ruim possa acontecer ao seu filho? Se inventassem um chip para colocar nas crianças e que você pudesse ter total controle de onde ela está, o que está sentindo ou fazendo, você colocaria no seu filho? Se depender de você, seu filho nunca terá frustrações na vida?


Se você respondeu SIM para alguma destas perguntas, super recomendo que leia este artigo até o final e depois assista o episódio Arkangel, da quarta temporada de Black Mirror, no Netflix.


Arkangel é o nome da empresa que oferece uma tecnologia a ser implantada no cérebro das crianças e permite que os pais as monitorarem através de um tablet, fornecendo informações acerca da localização, sinais vitais e filtros que controlam os estímulos que elevam o nível de cortisol e geram estresse.


A ideia de perder um filho ou que algo de muito ruim possa acontecer a ele traz muita preocupação para qualquer mãe, mas até que ponto é possível (e saudável) protegê-los dos riscos da vida?


Selecionei aqui 5 lições importantes presentes em Arkangel:


1. Excesso de proteção causa dependência. A superproteção tira da criança a oportunidade de aprender habilidades que serão importantes para lidar com as situações da vida, assim, ela ficará para sempre dependendo dos cuidadores para tomar as decisões e não assumirá a responsabilidade por suas ações.


2. A criança precisa passar pela frustração. A frustração é um sentimento desagradável, mas fundamental para que a criança aprenda a valorizar as coisas que são importantes e também para que desenvolva tolerância, persistência e força de vontade - habilidades que serão indispensáveis para seu sucesso na vida adulta. Quando temos dó ou resgatamos as crianças, lhes roubamos a oportunidade de crescerem e se desenvolverem.


3. É preciso pensar em longo prazo. Educar e formar um ser humano não é fácil, requer esforço e comprometimento por parte dos pais - ou de quem assumir esta função. Sempre digo que a infância é o período de SEMEAR, no qual só veremos o resultado depois de alguns anos. Quando expandimos a nossa consciência e pensamos em longo prazo, conseguimos negociar melhor as decisões do momento atual.


4. Educar é transferir conhecimento. Geralmente a superproteção faz parte da vida dos pais que sentem a necessidade de controlar tudo. O problema é que ao controlar tudo o que o filho faz, pensa, vê ou sente, ele não aprenderá a lidar com as situações quando o cuidador não estiver por perto. Quando o controle fica apenas nas mãos do adulto, a criança não aprende a pensar em suas ações, não assume responsabilidades e não segue as regras.


5. Busque o caminho do meio. Em Arkangel a mãe da menininha usava o dispositivo para filtrar e monitorar a filha durante toda a infância, mas depois de uma situação que ocorre quando a menina tem cerca de 10 anos, a mãe decide não usar mais a tecnologia e lhe dá liberdade total. Aquela criança que nunca havia experienciado o medo ou a raiva, que nunca tinha visto cenas de perigo ou sangue, de repente se depara com toda a realidade, nua e crua, sem nenhum preparo. Ao buscar o caminho do meio, os pais vão habilitando a criança à medida que ela cresce, aumentando os recursos internos para lidar com as adversidades e desenvolvendo a resiliência.


Uma vida sem dor, sem sofrimento, sem violência é o que toda mãe quer para o filho. Não fomos educadas para lidar com a dor. Temos a concepção de que sentimentos como raiva, medo e frustração são negativos, quando na verdade eles são apenas desagradáveis, porém necessários para a construção de uma vida feliz.


Aline Cestaroli é Psicóloga, Coach, Educadora de Pais e Professores certificada pela Positive Discipline Association (PDA/USA) e Consultora em Encorajamento. Trabalha com atendimento infantil e orientação parental. Realiza palestras e workshop de sensibilização sobre a educação das crianças. É coautora e coordenadora do livro “Conectando Pais e Filhos” e idealizadora do projeto “Encorajando Pais”.

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