“Eu estou cansada desse fascismo social. De conversas vazias, em que posso falar de tudo, menos da coisa mais importante na minha vida.
Por Marina Reis – CRP: 06/108906
Cuidado, contém spoilers!
A série Cenas de um casamento aborda um assunto tão atual, mesmo sendo uma regravação de um filme de 1973, ou seja: divórcio é um tema que “nunca sai de moda”. A história aborda o relacionamento conturbado de Mira e Jonathan, aparentemente perfeito (mas a perfeição tem validade, dura apenas metade do primeiro episódio).
A obra retrata o silêncio ensurdecedor que existe no dia a dia do casal, o amor e o ódio oculto (este muito mais evidente). Afinal, o que resta do amor, quando ele acaba? Nesta relação, restaram conversas incrivelmente sinceras depois de passarem por uma relação extraconjugal e toda angústia presente num relacionamento amoroso. Conversas francas que não tinham há anos.
Na série mostra todo processo de descoberta da traição: a verdade por parte de quem traiu (com quem/ como foi/ quando começou/ o que aconteceu), o processo de entendimento do lado de quem foi traído (entra num processo investigativo: “onde eu estava quando isso começou?”), o processo de amor e ódio: “eu te amo/ eu te odeio/ fica comigo/ vai embora/ vamos continuar/ quero terminar”.
Olhando sobre o viés da Terapia do Esquema, a Marianne parece ter esquema do abandono, no último episódio, quando se encontram na casa onde moraram e se separaram. Ela relembra que a mãe teve vários relacionamentos e comenta o que a mãe falou para ela no último encontro que tiveram: “Não faça isso, não se case. Jonathan é um cara legal, melhor cara com quem já esteve, provavelmente o melhor com quem você estará. Mas você não foi feita para se casar, você não tem esse gene. Eu não tenho, seu pai não tem, porque você teria?” – Mira se tornou uma mulher que abandona facilmente: abandonou a filha inicialmente (ao decidir viajar durante alguns meses um rapaz do trabalho, após assumir a relação para o Jonathan), abandonou o marido e não sustentou nenhum relacionamento após o término com Jonathan.
Após perceberem que não conseguiriam ser um casal convencional, o relacionamento continua, mas agora como amantes e mantém a relação em sigilo, o que evidencia o quanto aumentou o desejo sexual entre eles e levanta questionamentos sobre monogamia e não monogamia.
Marina Rollo Camargo dos Reis
Psicóloga formada pela Universidade Católica de Santos em 2011, curso de capacitação em Terapia de Casal. Atendimento individual e de casal na modalidade online.
Instagram: @psimarinareis
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