Por Ronnedy Pires de Paiva (CRP 08/26257)
As últimas temporadas da série americana de terror, aventura e ação da Warner Bros, Supernatural (Sobrenatural), traz várias reviravoltas na tentativa dos irmãos Winchesters de vencer o mal e salvar o mundo. Uma delas é o nascimento do filho de Lúcifer com Kelly Kline, um arcanjo com uma humana, trazendo ao mundo, Jack, um Nefilim.
Sam, Dean e o anjo Castiel se vem na necessidade de matar essa criança, pois ela seria uma grande arma nas mãos de Lúcifer. Contudo, pelo amor de Kelly e de uma visão que a criança, enquanto ainda no ventre de sua mãe, mostra a Castiel, Jack é poupado e começa a viver com os Winchesters. A mãe morre nesse nascimento, como já era sabido por todos, pois Kelly, apesar de saber disso, sabia também que Jack teria uma grande missão na terra e quis, desta forma, prosseguir com a gestação. A criança, que desde seu nascimento, já era um jovem, carregava sobre si um grande estigma, que é ser filho de Lúcifer, e tem, desde cedo, que lutar para aprender sobre os seus poderes, sobre o mundo e sobre as suas possibilidades de agir, além de estar sob a constante luta de anjos e demônios que queriam ter a posse de seus poderes para benefícios próprios.
Agora, com todos vivendo sob o mesmo teto, as coisas começam a mudar. Dean, que tinha uma grande desconfiança, pois acreditava que seria uma questão de tempo para que Jack mostrasse sua verdadeira faceta, a do mal, tem seu pensamento mudado pela forma com que Jack lida com as situações que são apresentadas. É possível perceber a forte influência do meio na vida de Jack, sua vida é impactada pelo amor de sua mãe, pela proteção de Castiel e pela inspiração dos irmãos Winchesters. Mas Jack também é apresentado a fortes condicionantes, como a frustração, a impotência, o mal, a dificuldade de saber quem realmente é e pela desconfiança de quem ele poderia se tornar. Tanto o lado mal, de seu pai, como o lado bom, de sua mãe, são fatores que o constitui, mas existe algo que somente ele teria poder de agir, a liberdade de escolher quem ele seria.
Viktor Frankl, criador da Logoterapia e Análise Existencial, nos apresenta no conceito da liberdade uma resposta para nossas possíveis dúvidas, pois existe quem dirá que não somos realmente livres, por haver situações que não nos é dado a liberdade de escolher. Frankl vem nos explicar então, que não somos livres ‘de’, mas livres ‘para’. Ou seja, enquanto seres humanos, somos apresentados sim a situações que não temos a opção de escolha, como onde nascemos, nossa família, uma doença ou a morte, mas que, apesar disso, podemos decidir sim como agir apesar desses condicionamentos, escolhendo a nossa atitude, nosso posicionamento.
Jack tinha a possibilidade de sucumbir ao lado sóbrio do pai, como também tinha a possibilidade de ascender ao lado bondoso da mãe, mas para isso, precisava posicionar-se. Jack então utiliza a sua capacidade de escolha, não de escolher quem é sua mãe ou seu pai, ou quem ele era, um Nefilim, mas o que ele poderia fazer com tudo isso que tinha a sua disposição. E através dos valores que ele incorporou a sua existência, decidiu quem ele poderia ser.
Assim como Jack, temos a nossa disposição a possibilidade de escolher nossa atitude, ainda que frente a situações que não são favoráveis ou conscientemente escolhidas. A nossa capacidade de posicionar-se, de agir intencionalmente, de valorar é aquilo que nos separa dos animais, pois se assim não fosse, estaríamos completamente presos a fatores genéticos, psicológicos ou sociais. O pensamento frankiano se mostra como uma guinada que devolve as nossas mãos as rédeas de nossa existência, mostrando que somos nós quem direcionamentos a nossa própria vida, com liberdade, responsabilidade e através daquilo que entendemos ter valor.
Ronnedy Pires de Paiva é Psicólogo (CRP 08/26257), Pós-graduando em Psicologia Existencial, Humanista e Fenomenológica. Trabalha em clínica sob orientação da Logoterapia e traz reflexões sobre a existência, cotidiano, sentido da vida e outros assuntos no Instagram @ronnedypaiva_.
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