Por psicóloga Giovanna de Boni Fraga, CRP 07/29470
Queer Eye é uma série americana original da Netflix, que teve sua estreia em 2018. É uma nova versão da série do canal Bravo, Queer Eye for the Straight Guy, onde cinco homens homossexuais, especializados em diferentes áreas, ajudavam homens heterossexuais a organizarem as suas vidas. Em Queer Eye, eles tomaram a iniciativa de tirar a parte do homem heterossexual, pelo motivo de que em alguns episódios são sobre uma pessoa em toda a sua diversidade, sobre aceitar, acolher e ajudar cada indivíduo a melhor a sua vida, independente da orientação sexual ou gênero. Tanto que no início do primeiro trailer, um dos apresentadores, Tan France diz que o primeiro programa lutou por tolerância, e este lutava por aceitação. Segundo ele, os antigos apresentadores não tinham espaço para falarem das suas vidas pessoais nos episódios antigos, agora eles podem se abrir e mostrar ao público que tem pouco ou nenhum contato com a comunidade gay que homens homossexuais são pessoas como eles, têm suas vidas, seus casamentos, suas famílias, seus traumas, suas crenças. Com mais diversidade e mais político do que o programa anterior.
Apresentado por: Antoni Porowski, especialista em comida e vinho. Ele tem experiência como ator e estudou psicologia, mas decidiu ir para a culinária, pois desde cedo era apaixonado, aprendeu a cozinhar com sua família. Bobby Berk, especialista em design. Ele trabalhou em loja de departamento e cresceu no ramo até se tornar diretor criativo. Criou sua própria marca e loja de decoração. Jonathan Van Ness, especialista em cuidados pessoais. Foi o primeiro líder de torcida masculino no colégio. Na universidade, estudou Ciência Política, ainda que sua paixão fosse cabelo e estética. Quando se formou, se mudou e se tornou assistente em um salão de beleza. Hoje, ele possui dois salões próprios. Tan France, especialista em moda. Ele nasceu na Inglaterra e seus pais são paquistaneses. Ele trabalhou na fábrica de jeans dos avós na adolescência. Depois se formou em faculdade de moda. Teve experiência com marcas de varejo, e fundou sua própria empresa de moda feminina. Karamo Brown, especialista em cultura e estilo de vida. Ele é apresentador de televisão, psicoterapeuta e ativista. Ele trabalhou por doze anos como assistente social e como terapeuta. Também oferece suporte de saúde mental para homens negros gays e bissexuais para erradicar o HIV no grupo da organização em que é cofundador.
Juntos, eles formam os Fab Five, ou Cinco Fabulosos, e a cada novo episódio, eles recebem a tarefa de usar os seus conhecimentos e habilidades específicas para ajudar cada uma das pessoas a conquistarem confiança e autoestima, aprenderem coisas novas, descobrirem diferentes interesses, trabalharem suas crenças, e abrirem suas mentes. A maioria das pessoas que eles auxiliam no início não veem que suas atitudes e comportamentos podem ser prejudiciais, mas com o passar da semana em que os os Fab Five estão ali, eles vão se dando conta do quanto eles progrediram com algumas mudanças de hábitos. A falta de confiança e o medo de ser julgado é um dos temas mais recorrentes no programa. Por vivermos em uma sociedade com tantos desajustes, preconceitos, muitas pessoas não conseguem se mostrar como de fato são, pois têm a crença de que os outros não os aceitarão como de fato são.
Além de, ajudarem as pessoas, eles também são ajudados. Conforme os dias vão passando, e eles vão se familiarizando com esses indivíduos, com todas as suas características, crenças e personalidades, os próprios apresentadores vão se abrindo e contando suas experiências de vida. Em um episódio, antes de chegarem a casa do cliente, eles foram parados por um policial – que havia nomeado e era amigo do cliente - e quem estava na direção era Karamo Brown que começou a ficar apreensivo naquele momento. Ele sabia que a situação no país era de tensão entre negros e policiais, e não queria problemas com o cliente, nem com o seu amigo. Em uma conversa, ele percebeu que os dois tinham muitas coisas em comum, e por isso, desabafou sobre sua percepção quanto ao que sentia em relação aos policiais. Karamo, contou que seu filho, não quis tirar carteira de motorista, por medo de ser parado e levar um tiro de um policial. E também disse que não queria que todos os negros fossem colocados em uma categoria, como criminosos, e que às vezes eles se sentiam assim. E o cliente, disse que os policiais também não queriam ser colocados como sendo vilões. Os dois chegaram à conclusão de que se todos pudessem ter uma conversa, as coisas seriam melhores na sociedade. E perceberam que todo mundo quer conversar, e ninguém quer escutar. Karamo se deu conta de que o cliente precisava aprender com ele, e vice-versa.
Em outro episódio uma cliente que era professora, e trabalhava com criança doentes em hospitais, ela tinha uma Igreja e os Fav Five, iriam ajudá-la a se cuidar mais, já que ela fazia tanto pela comunidade, e dava pouca atenção a si própria. Antes de chegarem a casa da cliente, Jonathan, comentou que se sentia amado e aceito por Deus e Jesus, mas as políticas da Igreja não o faziam se sentir bem-vindo. E que era como se as pessoas que estivessem lá tivessem a seguinte crença ‘’eu te amo, só não aceito o seu estilo de vida’’. Bobby, não quis entrar na Igreja da cliente, pois quando era adolescente foi rejeitado por seus pares. Ele conta que sempre foi católico, e seguia os ensinamentos da Igreja. E que todos os domingos, ele chorava e implorava a Deus, para não ser gay, e quando todos descobriram, eles deram as costas para ele. E isso fez com que ele nunca mais quisesse voltar a uma Igreja. A cliente então, conta um pouco sobre a sua percepção, e diz que ela teve preconceitos com o filho dela por ser gay, mas que depois de ela ter passado por um câncer, ela viu que nada era mais importante do que o filho dela. Então ela complementa sua fala, dizendo que o maior ensinamento de Jesus é o amor. E Bobby pareceu mais aliviado ao desabafar suas aflições para a cliente.
Queer Eye nos faz perceber que quando fazemos uma rotina de autocuidado, e temos autoconfiança temos mais facilidade para modificar aspectos da nossa vida que não gostamos ou que queremos aperfeiçoar. Parece irreal pensarmos que uma mudança no nosso estilo de vida, um simples hábito de cuidar da pele e do cabelo, uma modificação na nossa alimentação, na nossa casa e no guarda-roupa podem fazer uma pessoa ter atitudes diferentes. Mas quantas vezes, já vimos pessoas mudando móveis de lugar, melhorando a alimentação, e dando um trato no visual e de repente pareciam pessoas diferentes? Mais confiantes, determinadas e decididas. Uma mudança no lado de fora, pode modificar o lado de dentro, e vice-versa. Quando sentimos que precisamos melhorar algumas coisas na nossa vida, para termos um estilo de vida mais saudável e de acordo com os nossos princípios, e não sabemos por onde começar, podemos iniciar com pequenos passos. Não é necessário trocar todo estilo de vida, às vezes, uma pequena mudança de hábito pode fazer a diferença. E não importa a nossa idade, sempre poderemos nos reinventar e aprender coisas novas quando quisermos. Também, não podemos esquecer que nem todo mundo vai gostar do nosso estilo de vida, ou do modo como pensamos, e isso não tem problema algum. Não vamos agradar todo mundo o tempo inteiro. O importante é nos sentirmos felizes por sermos quem somos.
Giovanna de Boni Fraga, é Psicóloga formada pela PUCRS, CRP 07/29470, e escritora. Tem experiência em atendimento a crianças e adolescentes, grupos terapêuticos, orientação vocacional e escrita criativa.
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