top of page

O passado não muda, nós mudamos

por Giovanna de Boni Fraga - CRP 07/29470


What If…? é uma série antológica animada estadunidense criada para o Disney+ baseada na série de mesmo nome da Marvel Comics. A série explora linhas do tempo alternativas do multiverso do que aconteceria se os principais eventos dos filmes do UCM (Universo Cinematográfico Marvel) ocorressem de forma diferente. Através da narrativa do Vigia, um membro da raça extraterrestre Vigilante, que está por dentro de tudo como um telespectador assistindo, observando e não interferindo em nenhum acontecimento, podemos juntos explorar essa jornada de possibilidades de realidades alternativas. Cada episódio é único, e mostra um diferente contexto do que aconteceria se não tivesse sido como foi, exatamente como um universo paralelo de possibilidades infinitas. Isso quer dizer que uma única escolhapode alterar drasticamente a vida como ela é naquele universo.


Neste texto vou apresentar sobre o episódio quatro da primeira temporada, que fala sobre o que aconteceria se o Dr Strange tivesse perdido o seu coração ao invés das suas mãos. Contextualizado sobre o primeiro filme do personagem, no momento em que ele vai receber o prêmio, Stephen Strange tem uma briga com Christine Palmer, o seu grande amor, e acaba indo sozinho receber a premiação, o que faz com que sofra um acidente de carro, perdendo assim, a mobilidade das mãos. No episódio da série em questão, Christine e Stephen tem uma ótima relação, sem muitas brigas, nem desentendimentos, isso faz com que ela o acompanhe no recebimento do prêmio, mas antes mesmo de eles chegarem ao local os dois acabam sofrendo um acidente de carro onde ela perde a vida. Stephen fica desolado, o que o leva a procurar as artes místicas para curar seu coração ferido. Porém, conforme o tempo passa a dor que sente não diminui, nem passa, apenas permanece ali como uma ferida aberta e exposta.


Mesmo depois de dois anos tendo se passado, Strange não consegue seguir em frente, sempre voltando à mesma cena em pensamento e sofrimento. Na noite de dois anos do ocorrido, ele decide retomar ao passado usando o olho de Agamotto em um perigoso esforço para mudar o passado, mesmo com os conselhos de Wong para não fazer nada que fosse se arrepender depois. Porém, a arrogância e o orgulho do mestre das artes místicas não o deixaram parar até que conseguisse o que queria, não importando o tamanho do desafio que viesse a surgir em seu caminho. Chegando ao passado, em frente a mulher da sua vida, o desejo de construir um futuro juntos aflora de uma maneira gigantesca, que o faz persistir nem sem pensar em desistir de compartilhar um sonho antigo com Christine. Se antes estava com dúvidas se isso era certo ou não, afinal, mexer com a linha temporal, poderia causar uma explosão colossal, naquele momento ele simplesmente não se importou com mais nada, a não ser com sua amada.


Contudo, salvar Christine não era tão simples quanto acreditava, pois foi por causa da dor da sua perda que Strange procurou respostas em todo o mundo e nas artes místicas, se tornando assim, o mago mais poderoso. Determinado a mudar o curso dos acontecimentos e permanecer com sua amada, ele persistiu e insistiu inúmeras vezes sem sucesso. Quanto mais tentava segurar Christine ao seu lado, mais ela escapava das suas mãos, não importava o quanto tentasse salvá-la da morte certa, nada alterava a realidade como era. A anciã, também feiticeira suprema e mentora do mestre das artes místicas, percebeu a insistência de Stephen e fez uma visita para fazê-lo desistir e aceitar seu destino. Ela alertou sobre os perigos da alteração da realidade, que há certos pontos absolutos no tempo em que não tem como mudar, ainda que o nosso desejo seja grande para isso. Ele tinha consciência do quanto isso era difícil e complexo de ser realizado, porém, estava disposto a fazer de tudo para viver ao lado de Christine.


A anciã sem escolhas, resolveu dividir o Dr Strange em dois, para que ele mesmo pudesse decidir sobre o seu próprio destino. O primeiro deles permaneceu em casa junto de Wong fazendo chá e esquecendo seu passado por um instante, sem voltar ao tempo. E o segundo seguiu um outro caminho, buscando um lugar de poder e conhecimento sobre magia ancestral de extrema força. Stephen acreditava que era amor o que sentia por Christine, porém, ao deixar seu ego dominar ele foi perdendo a sua verdadeira essência. Um amigo e mentor deste lugar sagrado aconselhou antes de ele de fato perder completamente quem era: "Há uma linha tênue entre ilusão e devoção. O amor pode partir mais do que o seu coração. Ele pode destroçar a sua mente". Orgulhoso, egocêntrico e arrogante do jeito que era, com certeza que não iria parar, ainda que de certa forma esse conselho tenha sido um grande alerta para o que estava a surgir em seguida. Por fim, o plano de Strange deu certo, e ao mesmo tempo, errado. Ele conseguiu salvar sua amada, mas como já havia perdido toda a sua essência, a própria Christine não o reconheceu como sendo o rapaz por quem se apaixonou um dia.


Podemos compreender com este episódio da série What if...? com foco no Dr Stephen Strange, o quanto o nosso emocional é poderoso e perigoso se não buscarmos a cura e o perdão dos acontecimentos dos quais não temos controle. Além do mais, conseguimos perceber o quanto as nossas emoções são capazes de nos prejudicar se não tivermos habilidades emocionais bem desenvolvidas. Nós controlamos as nossas emoções, e não o contrário, porém, se não soubermos como fazer, de que forma, em quais momentos é quase impossível regular o nosso estado emocional e não ter uma reação exagerada ou mesmo atitude impulsiva. Afinal de contas, as emoções nada mais são do que reações do nosso organismo perante a um estímulo externo. Elas podem ser sentidas através da alteração dos batimentos cardíacos, choro, entonação de voz, vermelhidão, entre outros. Cada pessoa reage diferente ao mesmo estímulo, contudo, as respostas dessas reações são iguais. Foi o que pudemos perceber com os dois Strange, cada um teve uma reação diferente perante a morte da Christine, porém, as respostas foram iguais: os dois sofreram, só que cada um escolheu um caminho distinto.


Isso quer dizer que nós sempre temos escolhas na hora de reagir a estímulos externos. Quando entramos em contato com nossas emoções, podemos escolher fazer diferente, não entrando em brigas, parando discussões, evitando desentendimentos, impedindo confusões. Mas para isso é necessário muita atenção, foco e disciplina para se manter em um estado emocional neutro sem grandes variações conforme as situações e os acontecimentos do dia a dia ocorrem. Não é fácil, pois o nosso emocional é testado diariamente dentro de casa, no trabalho, no trânsito, na rotina diária que nos faz entrar em contato com a realidade externa. Porém, conhecer e trabalhar as emoções ajuda a voltarmos a um estado neutro muito mais rápido do que sem essa prática constante. Sem falar, que quanto mais aprendemos a lidar com aquilo que sentimos, mais conseguimos aceitar e perdoar aquilo que não podemos controlar. Algo que nem mesmo o Dr Strange dessa realidade de What If…? conseguiu lidar, pois não pode aceitar que nem tudo na vida é passível de ser controlado.


Giovanna de Boni Fraga é escritora e psicóloga, formada pela PUCRS. Idealizadora do Projeto Porta Adentro: relatos de tempo em casa; Coautora do aplicativo Amar é; Editora da equipe Psicologia em séries.

Através do autoconhecimento e da escrita terapêutica ajuda pessoas a se conectarem com a sua própria criatividade para a resolução de problemas.

Atende crianças, adolescentes e adultos de forma presencial na cidade de Osório - RS, e online para as demais cidades do Brasil.

Seus interesses estão voltados no desenvolvimento do autoconhecimento através da escrita terapêutica, na criatividade como resolução de problemas, e na saúde e bem-estar através da atenção plena.


Acompanhe seu trabalho em:


61 visualizações

Posts recentes

Ver tudo
bottom of page