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Nancy Wheeler: Em busca do seu lugar no mundo

por Giovanna de Boni Fraga, Psicóloga CRP 07/29470


Nancy Wheeler é uma personagem da série Stranger Things. Ela é uma mulher persistente, corajosa e forte, com um instinto apurado, e grande determinação. Sem a sua determinação ela não teria encontrado sua amiga desaparecida, Barb. Não teria enfrentado monstros do mundo invertido. Não teria ido atrás de pistas importantes para o seu desenvolvimento como jornalista na cidade. Quando Nancy surgiu, ela aparentava ser uma garota inocente, esperta, contudo, superficial e mesquinha. Talvez pelo fato de ela namorar o garoto mais popular da escola – Steve - ou porque ela ignorava sua amiga por causa do mesmo. Porém, Nancy mudou seu comportamento, até mesmo com seu irmão, que ela vivia implicando e vice-versa, quando sua amiga Barb desapareceu após uma festa na casa do seu namorado. Preocupada com a amiga, ela procurou pistas, juntou informações, e foi atrás do que havia acontecido. E desde então Nancy cresceu como personagem, tornando-se uma mulher madura, segura e forte.


Sua segurança com o que acreditava ser certo deu uma abalada quando ela saiu da escola e foi trabalhar em um jornal como redatora. Apesar de já ter vivenciado diversas coisas estranhas na cidade de Hawkins e querer falar sobre elas, os diretores não acharam uma boa ideia, e a deixaram como responsável do café. Seu novo namorado, Jonathan, também trabalhava no jornal como fotógrafo, porém, achava mais importante continuar no emprego do que ir atrás de investigações que poderiam não ser verdadeiras e contradizer os diretores do jornal. Nancy, então, descobre de uma senhora, uma história de que ratos estavam comendo fertilizantes. Empolgada para escrever o tal acontecimento, ela vai até o local, toma nota, Jonathan tira fotos, e eles levam para os responsáveis do jornal. Eles acharam toda aquela história desinteressante, e a mandaram fazer algo importante, como fazer café. Nancy ficou vários dias pensando naquela história, e com isso os diretores começaram a fazer ‘’brincadeiras’’ com ela, como por exemplo: colocando ratos de mentira nos armários, a chamando de Nancy Drew (uma garota detetive que investiga casos curiosos em um filme).


Apesar de a personagem ser fictícia, vemos ainda nos dias de hoje histórias parecidas com a de Nancy. Mulheres que não tem sua voz ouvida nos locais de trabalho; que precisam se esforçar em dobro para ter reconhecimento; que sofrem pressão psicológica; entre outros. Ainda que este cenário esteja mudando, é inegável que presenciamos nos tempos atuais atitudes machistas. A série é retratada no ano de mil novecentos e oitenta e sete, já se passaram trinta e três anos. As mulheres estão ganhando destaque nas empresas a cada ano, contudo, é preciso se esforçar para ter seu devido reconhecimento. Por isso, vemos cada vez mais empresas criadas por mulheres para que outras mulheres possam também trabalhar. É comum mulheres fazendo as mesmas funções de homens, e ganhando menos, quando não deveria ser algo comum.


Historicamente, a mulher é retratada como uma figura frágil, sensível e maternal. Uma mulher forte e segura de si precisa passar por diversos obstáculos no mundo patriarcal. É preciso usar sua voz com firmeza, ter segurança em suas atitudes, e desconstruir essa visão fechada e paralisada no tempo. As mulheres não nasceram para serem mães, donas de lares, protetoras das famílias, elas nasceram para serem o que quiserem. Fortes, determinadas, persistentes, seguras, livres. Podendo cumprir cargos de liderança ou não. Sendo mães, e terem um trabalho remunerado. Sendo livres para escolherem a vida que desejam ter. Escutando a sua própria voz, e compreendendo que a sua opinião é sim válida e deve ser escutada.


Nancy Wheeler teve de lutar por um lugar no jornal. Para ter sua voz ouvida. Para ser validada. Ela foi atrás do que acreditava, indo contra os diretores do jornal, e do seu namorado, que duvidou no início se suas investigações eram de fato reais. Sua mãe foi quem escutou, deu apoio, e acreditou nela, fazendo com que continuasse as investigações para buscar a verdade. Nancy queria saber a verdade, mas também era possível notar que ela buscava pelo seu reconhecimento, e pela sua própria voz. Muitas vezes, as mulheres se testam e se impõe firmemente para provar que são fortes, corajosas e persistentes; e principalmente para mostrar a si mesmas que elas são capazes. O grito de uma mulher para ter seus direitos ouvidos vai além de igualdade de direitos, vai também para ter reconhecimento da sua própria voz.


Giovanna de Boni Fraga, é Psicóloga formada pela PUCRS, CRP 07/29470, e escritora. Tem experiência em atendimento a crianças e adolescentes, grupos terapêuticos, orientação vocacional e escrita criativa.

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