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Lúcifer: a história do diabo em busca de si mesmo.

Atualizado: 28 de ago. de 2020

Por Emmanuelle Camarotti, CRP07/31865


Lúcifer é uma série criada pela Warner Bros, DC Comics e Jerry Bruckheimer Television, baseada em uma história em quadrinhos da DC Comics sobre investigação policial e elementos sobrenaturais e era exibida pela FOX. Atualmente, a série foi resgatada pela plataforma de streaming Netflix, após o cancelamento da série pela FOX. Dito isso, você precisa entender três coisas sobre Lúcifer:


1. Ele é o diabo.

2. Sua relação com a família é muito conturbada.

3. Ele é um mestre em projetar seus problemas.


Lúcifer Morningstar é de fato o diabo, o rei do inferno, famoso por castigar as almas pecadoras da Terra, contudo, ele se cansa de seu trabalho e resolve tirar férias entre os humanos, mais especificamente, em Los Angeles (EUA).

Ao chegar em Los Angeles, Lúcifer compra a boate Lux e passa a viver de forma livre, com todas as mulheres, bebidas, drogas e tudo que deseja, na hora que bem entende. Ele não é lá muito responsável em suas decisões, mas para um ser celestial que não precisa lidar com a mortalidade dos humanos, esse comportamento faz sentido. Esse contexto começa a mudar quando Lúcifer se envolve em um homicídio e ajuda a polícia de Los Angeles a resolver o caso. Ao conhecer a detetive Chloe Decker, uma policial que leva seu trabalho muito a sério e que se empenha ao máximo para resolver os homicídios e levar justiça às pessoas, Lúcifer logo percebe que Chloe não é afetada pelos seus poderes como os demais humanos e isso faz com que ele tente desvenda-lá. Para isso, Lúcifer se une à equipe de Chloe como consultor civil e usa seu poder de descobrir os desejos mais profundos das pessoas para ajudar a detetive a solucionar os casos.


Com o passar do tempo o que percebemos é que Lúcifer inicia uma jornada de descobrimento de si mesmo, com a ajuda de sua terapeuta, Dra. Linda. Apesar de distorcer as reflexões trazidas por Linda, Lúcifer se questiona mais e mais sobre seu papel de ser o punidor dos pecadores e ser o representante da maldade do mundo e passa a usar os casos de homicídio como um caminho para entender a si próprio. É perceptível a ambiguidade quanto ao que ele acredita ser e ao que os outros dizem que de fato ele é. Em vários episódios, Lúcifer usa os suspeitos dos crimes para justificar suas próprias ações, que por vezes, são egoístas, e os julga como culpados e merecedores de punição, quando na verdade ele acredita que é isso que ele mesmo merece, ser punido por suas ações imprudente e egoístas.


Lúcifer guarda um grande rancor por seu pai, Deus, por tê-lo expulsado do céu e o enviado ao inferno após a guerra que ele mesmo criou. Durante toda a série, Lúcifer justifica seus comportamentos através da briga que tem com seu pai e decide que todas as suas ações terão como objetivo contrariar tudo o que Deus prega. Contudo, nenhuma das ações de seu pai são claras o suficiente para que Lúcifer de fato compreenda o que se passa consigo e tudo piora com a chegada de seu irmão, Amenadiel, que é o anjo guerreiro enviado por Deus para levar Lúcifer de volta ao inferno, ou pelo menos é isso que Amenadiel entende que deve fazer. Assim como Lúcifer, Amenadiel não compreende a natureza humana e porque seu pai se importa tanto com sua criação, decidindo usar todo seu poder divino para fazer com que seu irmão volte o inferno. O resultado é uma enorme confusão criada por Amenadiel envolvendo um policial corrupto que foi dado como morto, mas que ele trouxe de volta à vida com o objetivo de que ele matasse Lúcifer. Ambos, utilizam os humanos como meio para obter os resultados que desejam, independente das consequências e bagunçam a vida de todos os envolvidos, inclusive a da detetive Chloe, que quase perde a vida por isso.


Durante toda a série, Lúcifer atribui ao seu pai a culpa por todas as suas decisões erradas e esconde seu sentimento de rejeição por não fazer mais parte do céu. Com o passar do tempo, Lúcifer se apaixona por Chloe e, como de costume, culpa seu pai por isso, pois acredita que ela é uma armadilha para levá-lo de volta ao inferno, ou seja, Lúcifer está sempre desconfiando de alguém, mesmo quando as pessoas dizem que querem ajudá-lo, evitando se tornar íntimo de qualquer pessoa. Seu relacionamento com Chloe se torna algo complexo e que deixa Lúcifer vulneravelmente humano, mas isso não o impede de abrir mão da sua vida boêmia para estar com ela sempre que pode. É nos momentos que ele tem com Chloe que Lúcifer consegue entender mais os humanos e compreender quem de fato ele é, não uma representação de dor e sofrimento, mas sim de justiça e responsabilidade. Uma vez que uma pessoa viveu uma vida cheia de pecados na Terra, a sua punição no inferno será proporcional ao que nível de sofrimento que infligiu aos outros e, já que todos possuímos a dádiva do livre arbítrio, devemos nos responsabilizar por nossas ações e arcar com as consequências, o que é particularmente difícil para Lúcifer, já que ele projeta todos os seus problemas como culpa de seu pai.


Linda, sua terapeuta, tem um papel importante na trajetória de Lúcifer, pois, mesmo depois de ele ter mostrado sua face demoníaca à ela, Linda segue fiel à Lúcifer e não o abandona por ele ser quem é e ainda o ajuda a ressignificar todos os estigmas que recaem sobre a figura do diabo. Ao aceitar Lúcifer como ele realmente é, Linda mostra que não há problema em mostrar autenticidade nas relações, contanto que isto seja feito de forma empática e sem manipular os outros à seu favor. Aos poucos, Lúcifer entende que seu poder de descobrir os desejos mais profundos dos seres humanos deve ser usado da mesma maneira que era usado em seu trabalho no inferno, para trazer justiça às pessoas. Essa mudança faz com que ele se abra aos seus sentimentos de ambiguidade e tente entendê-los de forma consciente e responsável. A série ainda está em andamento, então muitas surpresas podem vir pelo caminho, mas uma coisa é certa: até o diabo precisa entender a si mesmo para viver uma vida repleta de sentido.


Quer mais? Assista nossa live sobre a série em https://www.instagram.com/tv/CDzoMc2ni5o/?utm_source=ig_web_copy_link



Emmanuelle Camarotti é psicóloga clínica de casais e famílias (CRP07/31865) Pós graduanda em Aspectos Diagnósticos e Terapêuticos das Disfunções Sexuais, participou do criação do aplicativo Amar É e desenvolve um trabalho focado em mulheres a partir do ciclo menstrual no Instagram @eumulherciclica.


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