por Patrícia Atanes de Jesus – CRP 06/37052
Blindspot (Ponto Cego) é uma série de televisão americana de drama criminal, ação e suspense criada por Martin Gero, em 2015, estrelada por Sullivan Stapleton (agente especial, Kurt Weler) e Jaimie Alexander (Jane Doe e outros). Ela possui 4 temporadas, sendo que agora no final de abril será lançada a 5ª e última temporada, depois do final surpreendente e intrigante de sua 4ª temporada. Esta série está na Netflix como uma das séries mais recomendadas. Blindspot (Ponto Cego) é uma série ambiciosa como um cruzamento entre The Bourne Identity (Identidade Bourne) e Alias.
A série começa com uma mala deixada no meio da Times Square (NY) direcionada ao FBI. Após evacuarem toda a rua e trazerem uma equipe bem treinada, sai de dentro da bagagem uma mulher totalmente tatuada e misteriosa, que sabe nada sobre sua identidade, já que apagaram sua memória.
Uma mulher cuja memória declarativa (também chamada de memória explicita, e que armazena nossas memórias que podem ser evocadas de forma consciente) foi limpa farmaceuticamente e que emerge de uma mochila na Times Square. Se isso não for estranho o suficiente, sua memória processual (relacionada a aprendizagem de habilidades) para coisas como combate corpo a corpo vão se apresentando no desenrolar dos episódios o que sugere experiência nas forças especiais. Seu corpo está coberto de tatuagens recentemente pintadas que acabam sendo pistas de um vasto plano de espionagem. Ela é apelidada de Jane Doe por seus responsáveis do FBI, incluindo o líder da equipe tática e provável relacionamento amoroso, o agente especial Kurt Weller (Sullivan Stapleton).
O FBI faz testes com ela para tentar recuperar a memória perdida, mas sem sucesso, fornecem-lhe uma nova identidade, chamada, então, de Jane Doe. A partir dos testes, descobrem que ela tem inúmeras habilidades, tais como facilidade de lutar, falar diversos idiomas, e instintos de sobrevivência bem desempenhados. Acontece que ao escanear as tatuagens, vão descobrindo que cada uma delas é uma pista para crimes que estão prestes a acontecer. A partir disso, se desenvolve a maior parte do enredo da trama, pois o FBI precisa desvendar cada uma das tatuagens para evitar crimes e atentados, protegendo os EUA.
Enquanto Jane participa das investigações, vai recuperando aos poucos sua memória e descobre que é da família de uma terrorista, que planeja mudar e reconstruir os EUA. Aos poucos, ela vai definindo sua identidade, com suas opções de querer voltar a ser o que era antes, ou o que está sendo atualmente após sua aparição na Times Square. Um conflito interno, psíquico e emocional que a leva a entrar em contato com sua sombra e sua criança interior, arquétipos que a ajudam a definir e a escolher quem ela deseja ser, o que na verdade não é uma escolha e um redescobrimento de sua verdadeira e única identidade.
Na 4ª temporada, Jane recebeu novas tatuagens para serem desvendadas, então ela não consegue ter uma vida normal, já que ela tem de ficar exposta, tentando descobrir o porquê de tudo isso, e aparecendo cada vez mais pistas para serem seguidas, todos desejam saber quando que isso chegará ao fim.
Esta série semi-cerebral oferece algumas reviravoltas divertidas à medida que a equipe descobre as mensagens por trás da intrincada e fascinante arte corporal de Jane Doe e corridas para evitar eventos trágicos antes que eles aconteçam. Momentos dramáticos e violentos aumentam a tensão. Há também uma natureza notavelmente sensual na série, já que o corpo de uma mulher está fornecendo as pistas de que os personagens precisam para que isso aconteça.
É uma premissa interessante e os símbolos apresentados dão à série um toque de fantasia, magia e ficção científica. A Equipe do FBI, comandada por Weler, passa o tempo tentando decodificar as imagens, cada uma das quais foi claramente projetada para desempenhar um papel importante na história. Mas ainda, em sua essência é um drama policial e, apesar de alguns momentos previsíveis, oferece enredos convincentes o suficiente para nos manter fixos em cada episódio das temporadas.
Blindspot (ponto cego) poderia provocar algumas reflexões importantes e um olhar mais atual para o papel e a posição das mulheres como protagonistas. A pele coberta por tatuagens de Jane ganha bastante tempo na tela (isso poderia ser um ponto negativo, pensando na exploração e exposição do corpo feminino, porém podemos olhar para os personagens de apoio, que inclui mais e várias mulheres, detentoras de conhecimento e habilidades em ambientes por muito tempo considerados exclusivamente masculinos, que examinam cada centímetro dela. Eu argumentaria que essa dinâmica também é compensada pelo fato de que Jane, interpretada habilmente por Jaimie Alexander, não é uma donzela em perigo. Ela é inteligente (fala diversos idiomas, tem habilidades com armas e artes marciais etc., apesar de não se lembrar do seu nome), corajosa e forte.
Gostaria de levantar aqui algumas reflexões para provocar o pensamento, Jane Doe é vilã ou heroína:
Embora ela não possa explicar, Jane tem uma inclinação altruísta. Por outro lado, ela é motivada pelo desejo intenso e único de descobrir sua identidade;
Jane tem ampla oportunidade de ficar à margem e deixar o FBI fazer as coisas, e, no entanto, ela se lança à ação, servindo voluntariamente;
Coragem não é um problema para Jane. Mas, com amnésia, ela não sabe completamente que forças está enfrentando, não reconhecendo possíveis riscos para poder avaliar os custos de suas ações;
Suas circunstâncias trabalham contra ela nesse fator. Ela não tem nada - sem nome, família, amigos, casa. Consequentemente, a única coisa que ela está sacrificando agora é sua segurança pessoal;
Uma grande motivação para Jane é descobrir sua identidade e nada, nem ninguém pode impedi-la ou ficar no seu caminho.
Para mim ela é heroína com grande ligação com sua vilã interna, a cada episódio essa dualidade se manifesta e isso que faz com que a Blindspot seja viciante e mais intrigante à medida em que a jornada de descoberta da identidade de Jane Doe avança, pois queremos entender quem ela realmente é, se a heroína que se descobre na sua vilania, ou a Vilã que se reconhece em seu heroísmo...
Eu tenho minha resposta... me conte a sua após assistir.
Patrícia Atanes de Jesus é psicóloga junguiana, CRP 06/37052 com Especialização em Terapia Sistêmica Familiar e Avaliação Psicológica, além de Psicologia Jurídica. Atende Crianças, Adolescentes e Casais em consultório particular em São Bernardo do Campo/SP. Seus interesses estão voltados para relacionamentos, transtornos e síndromes diversas que atingem os adolescentes (incluindo depressão, suicídio). Sua paixão está no entendimento do funcionamento da Psique e seus simbolismos. Acompanhe seu trabalho em:
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