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Famílias ao Resgate: múltiplas perdas, múltiplos lutos

por psicóloga Lêda Milazzo (CRP 09/10898)


Vivenciamos várias perdas ao longo da nossa vida e, consequentemente, vários lutos. O primeiro é quando perdemos o “quentinho” do útero materno. Depois... Ah, depois?! Depois, temos uma sequência, digamos natural, de perdas. Alguns mais, outros menos.


Que todo mundo perde algo e/ou alguém acredito que você já entendeu... Mas, é preciso deixar claro que cada pessoa sente essas perdas de forma única, particular. Isso quer dizer que a manifestação da dor e do sofrimento, também é única.


E por que é única?? Porque cada um tem sua história de vida, com suas aprendizagens (ou não) de lidar com frustrações, de expressar ou se calar.


Na série Famílias ao Resgate... A propósito, você conhece, assistiu ou já ouviu falar? Bom, como ia dizendo, nessa série, logo no primeiro episódio da temporada 1 são retratadas várias perdas pela família West. E claro, cada membro reage de uma forma.


A primeira, e talvez a mais dolorosa, perda que a família enfrenta é a morte da mãe com um câncer metastático, que em pouco tempo tira sua vida. Antes de falar da morte da Sra West, vamos falar do luto antecipatório vivido tanto pela paciente quanto seus familiares.


Logo na suspeita do tumor, o marido esconde da esposa a possibilidade que o médico havia dito. Além disso, quando o médico estava conversando com Jonh West ele se nega a ouvir, é como se ele tivesse uma dissociação, negando o possível diagnóstico da esposa.


Quando há a confirmação do quadro e da impossibilidade de cura a raiva de Jonh é expressada com gritos dirigidos ao médico. Fato que é comum em situações semelhantes. A raiva pode ser direcionada não só aos médicos, mas aos familiares, ao próprio paciente e demais cuidadores.


E a pergunta que não quer calar é feita pela Sra West: “Quanto tempo tenho? ”. E a resposta, nada afável, do médico é “Menos do que você imagina. ”


Os três filhos do casal praticamente não participam dos momentos finais de vida da mãe. O pai fala que “ela está cansada, vão outro dia. A filha mais velha, um tanto quanto rebelde vai ao hospital e esbraveja com a mãe: “- Como você pode? Por que você fez isso com a gente? Eu preciso de você!”. Sem ao menos ouvir sua mãe vai embora.


E quem disse que ela queria estar com câncer? Câncer a gente não vai ali e compra... Sim, algumas coisas que a gente compra predispõe ao câncer. Mas, você não chega em nenhum lugar e pede: “- Me dá aí uma porção ou uma dose de câncer de fígado, pulmão, tireoide, ou qualquer outro tipo. Será que ela queria estar à beira da morte? Será que ela não tinha outros planos? Mesmo, assim, antes da filha sair, ela pede desculpas.


O marido nega até o fim o diagnóstico, a morte, enfim, e o assunto. Em uma conversa do casal isso fica bem explícito:

- Precisamos falar sobre o que vai acontecer.

- Agora não. (Jonh)

- Quando?

- Depois. (Jonh)

- Talvez não tenha depois...


Já a caminho do cemitério, após a morte da mãe, Lisa narra: “ A vida é uma loucura. Num minuto “te vejo amanhã” e no próximo, ela se foi. Nem tivemos a chance de nos despedir. Tudo aconteceu tão rápido.” Ás vezes, a gente deixa para despedir quando não há mais tempo para despedidas. A gente deixa para estar com quem ama quando não há mais tempo para ficar juntos. Na vida, a gente, simplesmente deixa...


As inúmeras perdas se sucedem nos meses seguintes. Jonh, que esperava uma promoção de cargo, não a recebe. A filha mais nova não consegue fazer a prova na escola. Já, LISA, agride uma garota que conversava com o seu namorado e é detida.


No julgamento, a família da garota agredida faz um acordo de não levar adiante desde que ela faça terapia. E para nossa surpresa (surpresa nada, ainda vemos o tempo todo), ela pronuncia, em alto e bom som: “Terapia, que saco!!” Mas.... Como acontece também o tempo todo, com o passar do tempo a história muda e ela começa a gostar do processo. Só que esse assunto é para a outra temporada do blog.


Continuando a “avalanche” de perdas e lutos. Desempregado, Sr West anuncia a mudança para a cidadezinha que a irmã da Sra West mora. Indignados, os filhos não apoiam, apenas a mais nova.


Ao contar para sua nova namorada, porém, uma velha amiga, sobre a mudança, o filho do meio fica falando sozinho, já que ela entra e fecha a porta na cara dele. Sim, mais uma perda.


Com toda dificuldade e mal humor, os West seguem de mala e cuia (expressão aqui da região – GO) para a casa da tia, onde passarão um período até se organizarem e os móveis chegarem.


E então, a perda derradeira desse episódio é apresentada: a casa da tia, que estava toda arrumada para recebê-los, tchanan!! Pega fogo e é praticamente toda destruída. Só dando um pequeno spoilerdo segundo episódio: a casa não tem seguro...


Apesar de ser uma série fictícia, poderia ser a história real de muitas famílias, até mesmo da minha ou da sua. Pode não ser exatamente assim, mas desde que nascemos vivenciamos múltiplas perdas, múltiplos lutos...


Se quiser compartilhar o que achou do texto, bater um papo sobre o assunto ou conhecer um pouco mais sobre a temática estou à disposição. Você me encontra pelo WhatsApp (62)99951 1300, no insta @leda.milazzopsi e no site www.ledamilazzo.com.br.


Lêda Cristina Pinheiro Milazzo, Psicóloga (CRP 09/10898), especialista em Psicoterapia Analítico-Comportamental e com especialização em Tanatologia: Sobre a Morte e o Morrer. Pós-graduanda em Psico-oncologia. Além do atendimento clínico, auxilia colegas psis a serem fonte de apoio a seus pacientes/clientes para que possam entender e vivenciar os processos de luto de forma saudável. Para que os enlutados, que busquem a ajuda desses profissionais, consigam viver o luto e não sobreviver de luto.

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