por Andrey da Silva Aires - CRP 07/33087
A série adolescente da Netflix intitulada Eu Nunca (Never Have I Ever) acaba de lançar sua terceira temporada e nela, nosso companheiro narrador, John McEnroe, nomeia uma situação em particular vivida pela protagonista, Devi, como “Efeito Ed Sheeran”, mas afinal, o que ele queria dizer com isso?
Em determinado momento da série, Devi está em uma reunião com outras pessoas de sua escola, e decidida a dar um beijo naquela noite, a jovem começa a procurar possíveis possibilidades, e ao olhar para um determinado colega que ela julga não ser atraente o suficiente, meio bobo entre outras coisas, decide que ele não será o moço a beijá-la naquele dia. Mas isto só se mantem até que este mesmo menino pegue um violão e vá tocar uma canção no palco do evento onde ambos estavam. Naquele momento (e pelo menos até o fim daquela noite) o menino bobo, sem graça e desprezado romanticamente por seus pares passou a ser muito atraente para nossa protagonista, assim como para as demais meninas no local.
Essa descrição pode ter despertado memórias onde o leitor(a) estava no ensino médio e se apaixonou por alguém assim, ou talvez até seja esse (muitas vezes detestado) indivíduo que levava um instrumento para tocar em festas, afinal, esse é um cenário muito comum em todos os lugares. Mas e aí? Por que isso acontece e mais importante para nossa discussão, como fazer ele acontecer pra você?
Primeiro, vamos definir o que é atraente. E claro, você deve estar pensando que isso é altamente individual, e de fato é, mas beleza pode ser classificada em diferentes âmbitos e é aqui que devemos focar nossos esforços: o mundo em geral (e por várias razões, especialmente o mundo adolescente) é bastante focado na beleza física das pessoas e enquanto ela é muito importante, até mesmo para questões de autoestima, definitivamente não é a única maneira de ser bonito.
Meu palpite, é que aquele jovem (esteja ele na série de tv ou na sua frente, hipnotizando todos enquanto toca Faroeste Caboclo) demonstrou naquele momento que nele, havia outras coisas a serem reparadas além de seu rosto e corpo, mostrando que talvez, ele fosse mais interessante do que as meninas presentes haviam pensando à primeira vista. É importante lembrar que beleza também se refere a coisas como hobbies, atitudes, senso de humor, entre outras coisas.
Por acaso vocês já conversaram com alguém, e perceberam que essa pessoa se tornou fisicamente mais bonita depois de vocês a(o) acharem legal, divertido, inteligente, etc? Isso acontece, pois, a separação entre esses tipos de beleza é puramente conceitual, serve para que possamos conversar sobre isso e criticar o que achamos ser bonito e por que, mas as coisas que tornam as pessoas atraentes para você estão todas inclusas no mesmo pacote, naquela mesma pessoa.
Investir em beleza física (o que quer que isso signifique para você) é definitivamente uma atitude válida, mas não deve ser a única forma de buscarmos nos tornarmos mais bonitos. Também é importante dizer que não há nenhuma necessidade de que sua personalidade “faça sentido”: você pode gostar de assistir anime, gostar de levantar pesos na academia, detestar futebol e adorar punk rock assim como funk, e tá tudo bem! Quanto mais diversas forem as coisas com as quais você se identificar, maiores as chances de que alguém com gostos mais ou menos similares vá te achar atraente.
O “Efeito Ed Sheeran” é um excelente modo de denominar uma situação social que muitos vivemos/vivem/vão viver. Ressaltar suas qualidades com a intenção de conquistar outras pessoas sempre vai acontecer, e mesmo que você se sinta mal com alguma característica pessoal sua, não se esqueça que podemos investir em outras áreas, certamente alguém vai se sentir atraído pelas coisas que te fazem único.
Andrey da Silva Aires é psicólogo clínico de indivíduos, famílias, casais, pós graduado em psicologia e sexualidade e mestrando em psicologia.
Também é criador da página @andrey.aires.psicologia no Instagram e Facebook onde desenvolve um trabalho focado em abordar conceitos da psicologia de um jeito simples, muitas vezes usando a cultura pop como paralelo para nossa vida.
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