por Larissa César CRP 03/9058
A série Eu nunca consegue tratar assuntos sérios com leveza, bom humor, de uma maneira descontraída ela aborda reflexões necessárias e traz muitos ensinamentos para quem assiste.
A trama conta a história da jovem indiana Devi, uma adolescente que se divide entre cultivar a cultura familiar e também aproveitar ao máximo sua juventude. Entretanto, alguns desafios mudam seus planos, pois, no meio da busca pela popularidade, estão os traumas pela morte repentina de seu pai e alguns dilemas e desafios próprios da sua idade.
Devi é uma protagonista nada heróica e passa por muitas situações complicadas com sua mãe, amigas e namorados. Ela é engraçada, inteligente e aprende enquanto vai errando na sua trajetória, sendo esse um dos grandes pontos de identificação da série, ela traz personagens reais, imperfeitos, vulneráveis, com erros e acertos, mas que estão dispostos a aprender e mudar. O enfrentamento as questões sensíveis da vida é um dos temas bem presentes em toda a história narrada, e por esse motivo consegue trazer algumas lições psicológicas importantes, são elas:
Traumas na adolescência podem mexer com a construção de identidade: ao longo da série Devi busca ser uma outra pessoa, além da vontade de experimentar coisas novas, ela tem uma urgência de se afastar de quem ela é, e assim conseguir a aprovação das outras pessoas e com isso ela vai se distanciando dela mesma.
O luto precisa ser sentido e conversado: após a morte do pai , Devi e sua mãe começam a tentar seguir suas vidas após a perda, porém as duas não param para realmente conversar sobre o assunto. Na verdade, com ninguém Devi consegue dizer o que sente sobre o luto. As sensações diante da morte são diversas e complexas, por isso é importante dar voz ao sentimento para lidar com a perda de uma maneira mais saudável.
A importância do apoio dos pais no acompanhamento psicológico dos seus filhos: vemos grande evolução na relação entre Devi e sua mãe quando ela se esforça para se abrir e entender os sentimentos da filha. O processo psicoterapêutico é muito mais eficaz junto com a família, ele envolve esse núcleo, então é necessária esse integração.
O poder da saúde psicológica sobre o corpo: um dos grandes fatores para a trama de Eu Nunca, é que após o trauma em seu recital, Devi perde o movimento das pernas. Depois de vários exames não há nenhuma causa física evidente para esse acontecimento, ficando evidente que houve uma psicossomatização,, que é quando somamos questões emocionais e, transferimos para o nosso físico, mostrando o quanto que o corpo pode falar sobre a dor que não é dita pela voz.
É necessário estar realmente aberto ao processo terapêutico: na série, um dos grandes momentos de evolução e amadurecimento de Devi, é quando ela realmente se abre em sua sessão de terapia, entendendo que perdas e frustrações fazem parte da vida, e que aprender a lidar com elas é muito importante para sua vida e relações.
A importância de se trabalhar a autoestima desde a infância: a série retrata como Devi se sente insegura nas suas relações, com sensação de incapacidade e insuficiência, tem uma avaliação de si muito negativa, o que faz ela se moldar em algumas situações e ir anulando seu jeito de ser, demonstrando assim uma autoestima fragilizada.
A série traz várias reflexões educativas, como por exemplo, sobre transtornos alimentares e relacionamentos abusivos, além do convite explícito de desconstrução de estigmas e esteriótipos sobre relacionamentos homoafetivos, atuação feminina no âmbito profissional e preconceitos étnicos.
É uma série teen que trata com maestria temas tão importantes de maneira leve, divertida, mas sem perder a relevância e a sensibilidade.. Vale muito a pena assistir!!
Larissa César é psicóloga, com formação em Terapia Familiar Sistêmica.
Atende online e na área acadêmica seus interesses estão voltados para relacionamentos amorosos, conjugais e familiares, autoestima, relações de gênero e luto.
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