por Denise Abrahão do Nascimento, CRP 09/004387
Produzida pela Netflix e pela produtora canadense CBC Television, a série conta a história de Anne Shirley. Baseada no livro “Anne of Green Gables” (L.M. Montgomery), de 1908, a série levanta vários temas e tabus atuais, como feminismo, adoção, bullying, preconceito, o não pertencimento e o conceito de “família”. Esses são alguns dos assuntos que nos conectam ao mundo de Anne de forma muito leve e cativante.
Depois de treze anos sofrendo no sistema de assistência social, a órfã Anne é adotada por engano por um casal de irmãos, os irmãos Cuthbert, que, na verdade, queriam um garoto para ajudar nas atividades da fazenda. O que no início seria apenas um “negócio” se tornou uma adoção familiar.
Sem coragem de desfazer a troca, os dois irmãos acabam recebendo uma garota cheia de imaginação e completamente desajustada para a sociedade do final do século 19. O olhar romântico e encantado de Anne pela vida contrasta com a sociedade que tenta podar sua criatividade e sua capacidade de enxergar a realidade de uma forma muito única, poética e dramática.
Rapidamente, o assunto se torna um acontecimento entre a comunidade local e a garota. Anne era vista como “a órfã”. Cheia de imaginação e com um intelecto fantástico, a pequena Anne transforma a vida de sua família adotiva e da cidade que lhe abrigou, lutando por sua aceitação e por seu lugar no mundo.
Anne mostra sentimentos complexos, sentimentos esses que não são exclusivos dos adultos, mas podem ser percebidos desde a infância, dependendo das mensagens que a criança recebe e registra. Em vários momentos na série, aparece o sofrimento de Anne ao relembrar o seu passado cruel, durante os treze anos na instituição, a rejeição pela sociedade e também pela família adotiva.
Um dos pontos altos da série é o foco nas diversas relações estabelecidas entre as mulheres da época e a sociedade. O período marca um entusiasmo das mulheres, que começam a questionar seus papéis na sociedade da época como esposas e donas de casa, mas ao mesmo tempo há uma repressão dos outros e entre elas, que dificilmente conseguiam levar seus questionamentos adiante. Anne é uma delas, por não conhecer muito bem as relações sociais, ignora muitas delas. Na sua inocência falava sobre não querer se casar ou mesmo comentava com as amigas sobre sua primeira menstruação, assunto que era um grande tabu para a época. Esses assuntos fizeram com que Anne se distanciasse de algumas mulheres e se aproximasse de outras. Seu jeito fez com algumas mulheres despertassem certa vontade de questionar o modelo em que viviam.
“Muita gente julga que o amor tem o poder de superar tudo, que é preciso apenas amar bastante e tudo ficará bem. (…). Para que o amor dê certo, é preciso que exista alguma outra coisa ao lado dele. É necessário que haja o conhecimento e o reconhecimento de uma ordem oculta do amor.” - Bert Hellinger
O pertencer é antes de tudo um sentimento natural, uma necessidade de qualquer ser humano. Os conhecimentos, as experiências e tudo que está contido na história de um sistema familiar encontra seu caminho. A Constelação considera que este é o movimento vital, a vida deve ser seguida adiante, assim novas possibilidades são permitidas.
Cada pessoa que nasce ou é vinculada a um sistema necessita ser reconhecida como membro integrante e respeitada no seu lugar e no seu papel dentro desse mesmo sistema. Na série, vemos o quanto Anne buscava esse pertencimento, mesmo na época em que morava na instituição. Mas quando não era aceita, vinha o sentimento de rejeição, de abandono e o não pertencimento.
No Sistema Familiar os membros são importantes e únicos. Todos têm o direito de pertencer. Ninguém pode ser excluído não importa quais sejam suas características, dificuldades ou virtudes pessoais. Quando ocorre uma exclusão no sistema familiar, há desequilíbrio. Mesmo que haja partes difíceis no sistema familiar, elas não são tomadas como obstáculos.
Ao longo dos episódios, vemos que a maneira que Anne encontrou de encarar as dificuldades e os sentimentos de abandono e rejeição foi olhar a vida através de uma perspectiva bem particular, poética e romântica. Esse seu jeito fez com que ela fosse conquistando seu espaço e o coração daqueles que a haviam adotado como também da sociedade em que ela se encontrava.
Se você não assistiu, vale a pena.
Denise Abrahão, CRP 09/004387, é Psicóloga desde 2005 com Especialização em Análise Transacional pela UNAT- Brasil e Formação em Constelação Familiar Sistêmica. Atuação clínica com adultos na Clínica Espaço do Ser em Catalão- GO. Oferece Workshop, Palestras e Oficinas nas áreas de família, relacionamento e desenvolvimento pessoal.
https://www.instagram.com/denise_abrahao/
Comments