por psicólogo Otavio Fernandes Macedo, CRP 06/141924
Olá, doutores, tudo bem?
Borá conversar mais um pouco sobre Grey’s Anatomy?
Dessa vez, trouxe um assunto bem bacana, sobre o qual venho há um ano me debruçando, estudando e cada dia mais me apaixonando. Mas antes de te contar sobre ele, quero fazer uma síntese do capítulo 13 da décima sexta temporada chamado “Save the Last Dance for Me”.
Nesse EXCEPCIONAL episódio da série, conhecemos a doutora Lauren Riley, a primeira médica SURDA da história de séries médicas do mundo! A querida Shonda Rhimes soube mesmo abordar o assunto.
Ela é a médica que vem auxiliar o chefe dos residentes, Dr. Delucca, no diagnóstico de uma paciente que desafia o setor cirúrgico do Grey Sloan Memorial. Tal médica trata-se de uma especialista em diagnósticos, contudo apresenta uma diferença dos outros médicos que já apareceram em Grey’s Anatomy: ela é surda! Utiliza-se da língua de sinais para sua comunicação.
No episódio, ela precisa andar pra cima e pra baixo com um tablet, e na tela do aparelho está uma tradutora e interprete da língua de sinais dos Estados Unidos, pois seus colegas médicos não conhecem essa modalidade de comunicação de SEU PRÓPRIO PAÍS. Diferente do Brasil, né moçada, que todos conhecem a LIBRAS! #sqn.
Para além da excelente atuação da atriz e do episódio ter abordado com excelência a necessidade de olharmos para o surdo com suas infinitas possibilidades, quero nesse texto abordar de forma pedagógica e psicológica sobre os Surdos (com S maiúsculo – que nomeia a comunidade de pessoas que usam a língua de sinais como recurso de comunicação) e a LIBRAS.
Já que mencionamos os Surdos, vale lembrar que tais pessoas são aquelas que, segundo o Artigo 2º, do Decreto nº 5.626, de 22 de dezembro de 2005, devido a perda auditiva, utilizam-se, para fins de compreensão de mundo e interação com o mesmo, experiências visuais, manifestando sua cultura principalmente pelo uso da Língua Brasileira de Sinais – LIBRAS.
Como saber se alguém é surdo ou deficiente auditivo?
Os termos ‘surdez’ ou ‘deficiência auditiva’ podem ser utilizadas na descrição da pessoa que apresenta problemas auditivos, contudo são termos que não possuem a mesma definição.
A deficiência auditiva é como nomeamos a diminuição da capacidade em captar sons do ambiente, seja de uma ou duas orelhas. Essa deficiência pode ser leve, moderava, severa e profunda. A leve é quando a pessoa ouve sons a partir de 26 e 40 decibeis (dB); a moderada, capta sons acima de 41 e 60 dB; a severa, de 61 a 80 dB; e, por fim, a profunda, TODAS as pessoa que não conseguem captar sons abaixo de 90 dB.
Pra você ter uma noção do tanto de dB que cada um escuta, lá vai alguns exemplos: O leve consegue ouvir o que as pessoas falam, mas se no ambiente tiver alguns ruídos, ela terá dificuldade – o uso de aparelho já é recomendado. O moderado não consegue ouvir de forma clara em ambientes com ruídos e preferem ouvir a pessoa de frente. A severa, mesmo com aparelho, apresenta dificuldade em ouvir; recorrem, normalmente, a prótese. A profunda não é capaz de ouvir nada – exceto algumas pessoas que utilizam um aparelho potente, mas não são todas que se adaptam a ele ou que apresentam melhorias – neste caso, a LIBRAS é fundamental para comunicação.
Há pessoas que possuem dificuldade em ouvir, mas se relaciona e comunica de forma oralizada, tendo necessidade ou não do aparelho auditivo. Já outras pessoas, só conseguem interagir com o mundo a partir da língua de sinais. Podem ou não nascer com problemas auditivos, sendo este último, adquirido ao longo da vida.
A pessoa pode ser considerada surda dependendo da intensidade que se apresenta a deficiência auditiva. De acordo com a OMS (Organização Mundial da Saúde) a surdez é o termo que descreve aquele individuo que possui ‘perda completa da capacidade de ouvir em uma ou ambas as orelhas’. Mas não podemos ignorar que se reconhecer como surdo vai além de uma avaliação e diagnóstico médico, pois para pertencer à cultura surda, a pessoa precisa se utilizar da LIBRAS (no Brasil) e se relacionar com outras pessoas surdas (a comunidade surda do país).
Você sabia que a LIBRAS é uma língua oficial do BRASIL?
Pois é, a LIBRAS é uma língua oficial do nosso país, afinal, segundo o IBGE, em 2010, havia 10 milhões de pessoas surdas no Brasil.
Agora imagina: se não houvesse a LIBRAS, como esses 10 milhões de pessoas conseguiriam dizer o que sentem, pensam, seus desejos e necessidades?
Isso não passa pela nossa cabeça, pois utilizar a Língua Portuguesa de forma oralizada é algo natural e normal para nós ouvintes, agora exigir, por exemplo, que pessoas surdas só escrevam ou façam mímicas para dizer o que querem é não os olhar com respeito e dignidade.
A lei que oficializa a LIBRAS no Brasil é a de Nº 10.436 de 24 de abril de 2002.
E como é a qualidade de vida e saúde emocional da pessoa surda?
Infelizmente, ainda é preciso trabalhar muito na conscientização da formação integral do profissional da saúde para atender, de forma ética e assertiva, as pessoas com deficiência auditiva.
A maior dificuldade está na comunicação: nem todos sabem a LIBRAS. E isso é preocupante, pois para atendê-los é preciso que o profissional saiba esta língua oficial ou que a pessoa surda leve um tradutor-interprete de LIBRAS.
E em consultas, como de psicoterapia, no qual é necessário garantir o sigilo? Ou médica, dependendo do diagnóstico ou da demanda?
Isso leva a reflexão e a necessidade de se formular uma discussão sobre o ensino de LIBRAS para tais profissionais.
Ou melhor, para todos no Brasil. Não saber a LIBRAS colabora para a exclusão social no nosso país, sendo a comunidade surda forçada a criar uma subcultura, alheia a do país, contudo, inserida nela. O choque entre pessoas oralizadas e surdas é forte e difícil de ser administrada.
Espero que tenham gostado do texto e tenham despertado em vocês o desejo de aprender LIBRAS. Não só pra trabalhar com essas pessoas, mas para que, quando você encontrar uma pessoa surda, saiba incluí-la na conversa e trata-la com o respeito que ela merece.
Abraços!
Otavio Fernandes Macedo é Psicólogo, CRP 06/141924. Trabalha com atendimentos de crianças, adolescentes e adultos em Mogi das Cruzes/SP. Acompanhe seu trabalho em:
Tel: (11) 99768-4519
Email: psic.otavio1@gmail.com
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