por psicólogo Otavio Fernandes Macedo, CRP 06/141924
Oláááááá, doutores, tudo bom? Acho que estão nos bipando para a sala de TRAUMA 1. O que será que nos espera?
Hoje conversaremos sobre esse episódio que, na minha opinião, foi o mais difícil de assistir. Pois é, são raros os episódios que são difíceis de acompanhar e esse é um que quase lidera o topo.
Pra quem acompanha a série, sabe que a temporada 12 é uma das mais difíceis para Meredith Grey, nossa protagonista, uma vez que ela está em fase de (se você ainda não assistiu essa temporada, não leia o final dessa frase) elaboração de luto pela morte de seu marido, Derek Shepherd. Ela passa por mudanças e as pessoas que estão acompanhando juntos sentem também o climão.
Pra piorar, ela se torna professora da médica que esteve presente junto aos cuidados de Derek, a qual Grey culpabiliza pelo ocorrido. Então vocês já devem imaginar que viver a vida, na concepção da Meredith, é sempre ter algum problema com o qual precisa lidar, sofrer por ele e tirar um aprendizado.
Mas vamos ao episódio em questão: Meredith, Maggie e Alex Karev estão indo para o hospital, quando, parados num trânsito, resolvem averiguar o que está acontecendo. E, para dar seguimento ao episódio, o trânsito é ocasionado por um acidente. Prestando os primeiros socorros, os três médicos acompanham as vítimas pelo carro dos paramédicos.
Até aí, nenhum problema, pois as vítimas estão nas mãos dos melhores médicos do hospital, contudo, nem mesmo eles contavam com o que ia acontecer. O paciente de Meredith, enquanto estava sendo atendido, sofre uma convulsão devido a um hematoma epidural grave ocasionado pelo acidente e eles resolvem bipar um médico neurologista. Quem é a médica neurologista? Amelia Shepherd! Entretanto ela resolve não atender ao chamado de Grey, escolhendo outro paciente. Aqui uma coisa precisa ser esclarecida: as duas não estavam se falando por conta da aluna de Grey, Dra. Penelope Blake (quer saber mais sobre a confusão? Assista o episódio 5 dessa temporada).
Os médicos e enfermeiros que acompanhavam o paciente de Grey junto a ela saíram da sala deixando-a sozinha com o rapaz adoentado. Ele acorda da convulsão, contudo em estado pós-ictal (em outras palavras, estava confuso, sem ter noção da realidade), e tenta sair da sala, sendo impedido pela médica. Sem qualquer intenção de machucar, ele ataca ela, ainda em estado de confusão, deixando Meredith MUITO MACHUCADA. Chega a ficar surda por dias, quebra ossos, sem falar no trauma psicológico.
Tempos depois, quando a porta da sala na qual estava ocorrendo os primeiros socorros abre, veem ela caída ao chão próximo do paciente. Socorrem-na e começa a saga de cuidados: primeiros socorros, operações, acompanhamentos e etc e, nessa deixa, eu quero iniciar o tema desse texto: o ato de permitir ser cuidado.
Sem escolha, Meredtih se vê na posição de ser cuidada pelos colegas médicos. Alguns precisam fazer escolhas muito difíceis, como Jackson Avery que, para entuba-la, precisa quebrar o maxilar da mesma. A própria Blake, em dado momento do episódio, a fim de ajudar a professora a respirar, numa crise de pânico, passa por cima das orientações médicas do Avery e leva bronca por isso (mas até que nesse momento ela dá um orgulho para nós: enfrenta-o para defender sua paciente).
E durante todo episódio, a então paciente precisa se submeter a exames. Quando, retoma sua audição e começa a participar da discussão do próprio caso, pede a Blake que mostre as imagens de seus exames, contudo, vendo a gravidade, solicita que a mesma afaste o tablet. Ansiando saber do próprio estado, assumindo a postura de médica, vê seus exames não mais como médica, e sim como paciente. Compreendendo que trata-se de um caso grave, depara-se com seu estado que necessitava cuidado.
Aquela que assume a responsabilidade por inúmeros pacientes, agora está na posição de ser cuidada. O mais bonito do episódio é que ela não é apenas cuidada do seu estado fisiológico, mas também de suas fraquezas e orgulhos emocionais e psicológicos, como, por exemplo, tendo que lidar com Amelia, que ao perceber o resultado de não ter atendido o chamado de Grey (mas, convenhamos, não havia como prever tal ataque), sente-se arrependida, tem recaída no uso das drogas e busca por perdão. Como as duas estavam sem se falar, ela precisava volta-se para seus sentimentos direcionados a cunhada e compreendê-los a fim de superá-los. Richard Weber tem grande participação nessa jornada quando trabalha com Meredith assuntos mais profundos do que cirurgias gerais: O PERDÃO e seus efeitos sobre a vida de quem perdoa. Nesse momento então, vemos tanto Meredith quanto Amelia permitindo-se ser cuidadas.
Outro personagem também que é cuidado, ensinado e chamado a ter postura é Alex Karev quando, ao estar na companhia de Grey, é cuidado por Jo Wilson, que o vela em seu sono; também quando Meredith, já podendo falar, alerta-o dos sentimentos que Wilson nutre por ele, pois, não podendo falar, observava o comportamento das pessoas.
Dada essas reflexões, o episódio nos convoca a refletir: O QUANTO TEMOS DEIXADO QUE AS PESSOAS QUE ESTÃO A NOSSA VOLTA CUIDEM DE NÓS? Estamos sempre querendo estar por cima e ajudar, cuidar, mas esquecemos ou ignoramos que, mais nobre do que cuidar, é ser cuidado. A humildade de permitir-se receber o cuidado, o amor, a atenção daqueles que nos entregam gratuitamente é muito SUPERIOR ao desejo de cuidar, o qual muitas vezes pode ser apenas por interesse.
Pense sobre isso: CULTIVE AS PESSOAS QUE, ESTANDO COM VOCÊ, OPTE PELO AMOR GENUINO E QUEREM CUIDAR DE VOCÊ.
Grande abraço e até mais!
Otavio Fernandes Macedo é Psicólogo, CRP 06/141924. Trabalha com atendimentos de crianças, adolescentes e adultos em Mogi das Cruzes/SP. Acompanhe seu trabalho em:
Tel: (11) 99768-4519
Email: psic.otavio1@gmail.com
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