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Lições de empatia e respeito

por Giovanna de Boni Fraga, CRP 07/29470


"Heartstopper" é uma série britânica de televisão baseada nos quadrinhos de mesmo nome criados por Alice Oseman. A série estreou na Netflix em abril de dois mil e vinte e dois, e desde então se tornou um grande sucesso, especialmente entre o público jovem, devido a sua relevância e representatividade honesta e sensível sobre temas como amizade, amor juvenil, e identidade LGBTQIA+. Sem falar do cuidado e atenção para com conteúdos sensíveis, que é o caso do bullying, saúde mental e preconceito. Tudo isso, retratado de uma forma leve e simples para trazer maior delicadeza e sensibilidade para os personagens. E um dos temas que mais gosto, que será hoje o meu foco é a questão da empatia e do respeito. Algo tão importante e necessário nos tempos atuais, que merece ter um enfoque à parte.

Como nós sabemos, a série Heartstopper é voltada para o público LGBTQIA+ se identificar e assim, criar a sua própria narrativa a partir da complexidade dos personagens, mostrando que tudo é possível quando se tem bons amigos e rede de apoio. E uma das questões que a série mais apresenta são lições voltadas a empatia e o respeito para com a comunidade LGBTQIA+. Não é de hoje que o preconceito e a discriminação com pessoas fora do contexto heteronormativo se faz presente na nossa sociedade. Há alguns anos atrás era visto como normal haver exclusão e menosprezo para com gays e lésbica, pois fazia parte do padrão comum daquela época. Hoje em dia, ainda existe sim muito preconceito e discriminação, só que de uma forma muito mais escancarada já que as pessoas não têm mais medo de se assumirem. E aliás, isso é uma outra questão que os LGBTQIA+ sofrem até hoje, que é de terem de se assumir para a sociedade, sendo que nunca foi imposto para os heterossexuais fazerem o mesmo.

Por exemplo, vemos Nick tendo de se assumir para os amigos e familiares sobre ser bissexual. E mais adiante, Isaac se assume assexual. Só que ao contrário de Nick, Isaac deixa bem claro que está cansado de ter de explicar sobre, já que é uma sexualidade diferente, onde poucos entendem, e muitas vezes nem fazem questão de compreender mais profundamente. Isso nos leva de volta à questão da falta de empatia e desrespeito para com quem é diferente e sente de modo distinto do padrão comum da sociedade. Afinal de contas, nem todo mundo sente de forma igual ou com a mesma intensidade, existem diversas pessoas no mundo com sentimentos muito únicos. Ninguém é igual, e nem deveria se comparar com os outros. Cada história é singular, até mesmo no sentido de amar ou não alguém. Então, não tem como encaixarmos todos na mesma caixa, porque não vai caber.

E para além da questão da sexualidade, também vemos na série sobre a identidade de gênero e o respeito às diferenças. A sensível e amorosa Elle nos mostra a importância disso através do seu olhar como uma mulher transexual dentro de uma escola para homens cisgênero. Infelizmente não foi mostrado desde o início tudo o que ela passou, mas ainda assim podemos ver que não foi fácil ter de conviver com o preconceito e a discriminação no período escolar. Tanto que logo nos primeiros episódios da primeira temporada, podemos ver ela mudando de escola e tendo de se adaptar à nova realidade de viver com outras mulheres. E apesar de as colegas serem diferentes dos rapazes, ainda se sentia deslocada e receosa de que acontecesse o mesmo de antes. Mas em pouco tempo, ela foi acolhida por Tara e sua namorada Darcy, que namoravam em segredo por medo da exclusão e repressão que poderiam vir a sofrer.

Aliás, é importante destacar que todos os personagens em algum momento tiveram de entender o valor da empatia e do apoio entre amigos, ainda mais nessa fase da vida tão complexa que é a adolescência. Como o caso de Nick, que teve de enfrentar as críticas constantes do irmão que não o aceitava como era. Ou mesmo Elle, que queria ser reconhecida por sua arte e habilidades, e não apenas uma mulher transexual dentro da sociedade. Isaac também teve de explorar mais sua assexualidade arromântica e perceber que aquilo que acreditava saber sobre si mesmo era apenas um espectro. Darcy teve de se redescobrir, e se entender como uma pessoa não binária. E por fim, Charlie teve de lidar com seu distúrbio alimentar associado a transtorno obsessivo compulsivo enquanto enfrentava discussões infinitas com seus progenitores. Ou seja, cada um na sua própria vivência tinha algo a superar, porém como tinham um ao outro tudo se tornava ainda mais fácil e leve de ultrapassar.

O que podemos concluir com a série é que ela traz muitas lições importantes de empatia e respeito, ainda mais se formos ver individualmente a história de cada personagem. E por explorar de uma maneira tão delicada e sensível questões como identidade de gênero, amor romântico, conexão social e aceitação incondicional, torna-se assim uma fonte de inspiração para aprender e refletir sobre esses valores tão fundamentais nos dias de hoje. De fato, Heartstopper é um grande exemplo de como a empatia e o respeito podem transformar a vida de jovens e criar ambientes muito mais acolhedores e seguros de se viver. As lições que a série transmite vão além dos relacionamentos românticos, pois oferecem uma visão mais ampla sobre como tratar os outros com compreensão, paciência e apoio, independente da situação.


Giovanna de Boni Fraga é escritora e psicóloga, formada pela PUCRS. Idealizadora do Projeto Porta Adentro: relatos de tempo em casa; Coautora do aplicativo Amar é; Editora da equipe Psicologia em séries.

Através do autoconhecimento e da escrita terapêutica ajuda pessoas a se conectarem com a sua própria criatividade para a resolução de problemas.

Atende crianças, adolescentes e adultos de forma presencial na cidade de Osório - RS, e online para as demais cidades do Brasil.

Seus interesses estão voltados no desenvolvimento do autoconhecimento através da escrita terapêutica, na criatividade como resolução de problemas, e na saúde e bem-estar através da atenção plena.


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