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Emoções que vêm "do nada" e escolhas que parecem não ter sentido: The Sinner e a Terapia do Esquema

por psicóloga Mariana Gressler Volante Balardin, CRP 07/16141


Talvez você já tenha se perguntado por que algumas emoções vêm "do nada" ou por que as pessoas às vezes escolhem caminhos que parecem trazer apenas sofrimento e mais problemas. A série The Sinner, disponível na Netflix, aborda de uma forma bastante rica alguns mistérios do psiquismo. E é um prato cheio para quem conhece e se identifica com a Terapia do Esquema, uma terapia cognitiva integrativa baseada em teorias importantes como Psicanálise (e a teoria do apego de J.Bowlby), Gestalt-terapia, Psicodrama e Terapia Sistêmica.


Nas duas temporadas disponíveis na Netflix é possível refletir sobre como as dores emocionais da infância e da adolescência - quando os Esquemas Iniciais Desadaptativos, EID's, são formados – aparecem por trás de comportamentos disfuncionais no momento presente. Os episódios revelam memórias afetivas importantes dos personagens: eles não apenas "repetem" o que viveram no passado numa lógica de causa-efeito, mas acionam padrões de comportamento porque aprenderam que essa é a forma como conseguem lidar com suas demandas emocionais. No passado foram estratégias de sobrevivência e o cérebro "registrou" que esse é o melhor caminho. Geralmente isso acontece durante ativações esquemáticas, não se tratando de escolhas ponderadas. Por isso, muitas vezes parece não ter lógica para quem vê de fora - e até mesmo para quem vê "de dentro".


Outro conceito que também pode ser lembrado é o de economia psíquica: nosso cérebro "filtra" o que é pesado demais para lidar no momento. E isso tem uma função adaptativa por um período - até quando os prejuízos forem maiores do que a saúde.


Na primeira temporada é abordada a história de Cora Tannetti, mulher que teve um desenvolvimento marcado por grande privação emocional e cuidadores abusivos, o que se repetiu em suas relações durante a vida adulta ao ponto de cometer um assassinato de forma bastante inesperada. A segunda temporada é marcada pela história de Julian Walker, um menino que confessou ter envenenado duas pessoas e possui ligação com um grupo misterioso.


Em ambas as situações, o detetive Harry Ambrose se envolve além da relação profissional, vivenciando diversos gatilhos emocionais e comportamentos disfuncionais relacionados à sua história de vida. Ao longo dos episódios é possível compreender o quanto os personagens se conectam entre si por meio de suas dores emocionais.


Além de ser uma série com uma trama envolvente, nos faz pensar: nem todo comportamento e nem toda emoção são o que parecem ser. Na maioria das vezes são só a ponta do "iceberg". E possuem uma função na vida da pessoa, que desenvolveu modos de agir de acordo com cada situação, escutando vozes internalizadas que traduzem (de forma distorcida) quem são e o que é a vida. Descobrir como isso se inter-relaciona é fundamental para desatar os "nós" psíquicos e trazer saúde e funcionalidade na vida das pessoas.


Na série, um ponto muito importante para que isso acontecesse foi a conexão emocional entre os personagens e uma relação calorosa e autêntica. Isso favorece a reparação das necessidades emocionais não atendidas na infância e na adolescência. Ajuda a "curar feridas" dolorosas. E a escrever de uma nova forma a história de quem precisa de ajuda.


Mariana Gressler Volante Balardin é psicóloga - CRP 07/16141 - especialista em Terapia Sistêmica e Cognitiva individual, de casal e de família (INTCC). Especialista em Avaliação Psicológica (UFRGS). Formação em Terapia do Esquema (Wainer Psicologia/ISST). Trabalha com educação socioemocional para famílias, casais e indivíduos nas temáticas: gravidez, puerpério, primeira infância, parentalidade e conjugalidade. Siga em: @psicologamarianabalardin

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